terça-feira, 29 de maio de 2018

PLC 79/2016 não passará na CCT do Senado, diz Alencar

Se depender do senador Otto Alencar (PSD-BA), o PLC 79/2016, que altera o modelo de telecomunicações, não será mais apreciado na Comissão de Ciência e Tecnologia (CCT) do Senado. Isso, segundo ele, porque já há um entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) de que a matéria não teve nenhum problema na tramitação na Comissão Especial de Desenvolvimento Nacional, onde já havia sido aprovada, e deve seguir para votação no plenário. Otto Alencar, que é presidente da comissão e foi o relator da matéria naquela comissão, diz também que não aceita o projeto porque já recebeu diversas críticas de outros senadores ainda na época da primeira tramitação do projeto, e não pretende passar por esta situação novamente.

"Eu não recebo o projeto na comissão e tenho prerrogativa para isso. Além disso, o Supremo analisou a tramitação na época e não encontrou nenhum problema. No entanto, alguns senadores, de forma leviana, falaram que eu teria algum envolvimento com as operadoras, que têm interesse na aprovação. Tenho uma postura honrada e já naquela época rebati, de forma veemente, estas leviandades. Não vou passar por isso novamente." O senador comenta que havia recebido o projeto agora, mais por um gesto de boa vontade do que pela necessidade de analisar a proposta.

Otto Alencar revela que tomou a decisão de devolver a matéria para a Mesa Diretora ainda durante a audiência pública, realizada nesta terça-feira, 9, quando foi informado de que havia três requerimentos para que a proposta também tramitasse em outras três comissões (Assuntos Econômicos, Infraestrutura e de Constituição e Justiça). Ao perceber que os requerimentos, que foram rejeitados pelo presidente da Casa, Eunício Oliveira (PMDB-CE), teriam viés político, decidiu cancelar a audiência e nem mesmo promover a segunda parte da reunião, que estava prevista para o próximo dia 15. "Alguns senadores querem aproveitar o tema para ganhar notoriedade neste momento pré-eleitoral. Não vai ser comigo que vão conseguir", afirmou.

Otto Alencar reconhece que a Lei Geral de Telecomunicações precisa passar por uma revisão. E diz que a tramitação pode ocorrer de forma normal. "Este projeto é de interesse do governo. Como há um parecer do STF para que ele tramite no plenário, basta que o presidente Eunício Oliveira (PMDB-CE) o paute e entre em votação. Mas não Comissão de Ciência e Tecnologia, ele não irá tramitar", reforça. O problema é que Eunício de Oliveira já disse que não seria possível receber o projeto de volta para redistribuição. E mesmo Otto Alencar já disse que, em plenário, votará contra o projeto.

Nesta quarta-feira, a CCT devolveu o projeto para a Mesa Diretora do Senado, sob o argumento de que o STF já tinha se pronunciado sobre a votação em plenário. No entanto, por ordem do presidente, Eunício Oliveira, a Mesa Diretora da Casa indicou a devolução para a comissão. Porém recebeu a negativa, determinada pelo seu presidente Otto Alencar. "Este parecer do STF está nas mãos do presidente Eunício. Ele, inclusive, pode fazer um acordo de líderes e aprovar o projeto no plenário na próxima semana, em regime de urgência", completou. Outra alternativa para tirar o texto da CCT é um requerimento de urgência, que levaria o PLC 79/2016 ao plenário.

Fonte: Teletime News de 10 de maio de 2018, por André Silveira.

A última chance para um novo modelo

Se um dia o modelo de telecomunicações mudar, e se um dia essa história for reescrita, o capítulo dedicado ao PLC 79/2016 (ou PL 3.453/2015, para ficar em sua origem na Câmara) precisará de muito tempo para ser compreendido pelas gerações futuras. Quando tudo parece estar ruim para o projeto, a realidade mostra-se pior.

Ninguém questiona que o modelo de telecomunicações, já completando seus 21 anos, está para lá de exaurido. A prioridade legal dada ao serviço de telefonia fixa chega a ser ridícula considerando o que aconteceu no mundo nos últimos… 20 anos. A mobilidade e a Internet tornaram-se o que de fato importa no mundo das telecomunicações e da conectividade. O modelo da Lei Geral de Telecomunicações, previsto para vigorar até 2025, já deveria ter sido revisto há pelo menos 10 anos. Repensar o modelo é imperioso sob qualquer aspecto que se discuta. Seja porque a telefonia fixa no modelo de concessão é um serviço economicamente moribundo, seja porque mais de um terço da população brasileira ainda segue desconectada. Com isso, todos parecem concordar.

Ainda assim, a única proposta que ao longo destes anos todos prosperou no Congresso, o PLC 79/2016, consegue desafiar todos os padrões de tramitação e previsibilidade. Isso porque o PLC 79 se tornou um texto radioativo. Ninguém quer proximidade. O governo, com exceção de algumas manifestações do MCTIC, nunca assumiu a pauta como prioridade. Parlamentares que um dia assumiram a causa, como os senadores Jorge Viana (PT) e, agora, Otto Alencar (PSD), preferem ver o projeto engavetado de vez. Até mesmo a oposição, que conseguiu vitória política ao segurar a sanção do texto, nunca fez nenhum esforço para discutir o projeto no mérito. Basta lembrar que nas comissões da Câmara e do Senado os oposicionistas não apareceram para votar nos momentos críticos, ignoraram prazos básicos e sequer apresentaram emendas de ajustes ao projeto pelas quais tenha havido algum esforço de pactuação. Já as empresas de telecomunicações e MCTIC, maiores interessados na matéria, erraram ao decidirem em algum momento embarcar em um projeto já em tramitação do que deixar que uma proposta que vinha sendo costurada pelo Executivo, ainda no final do governo Dilma, se tornasse um projeto de lei com chance de ser pactuado. Todos erraram.

O PLC 79 está longe de ser perfeito como revisão de modelo. O texto poderia ser mais cuidadoso ao dar ao Executivo prazo e diretrizes para futuros projetos de cobertura em banda larga. Deveria ter sido mais cuidadoso e deixado claro que as futuras renovações de frequências seriam feita pela Anatel pelo menos mediante um chamamento público para novos interessados.

Ainda assim, mesmo imperfeito, o projeto tem a virtude de mexer com o anacrônico modelo atual. Os defeitos do projeto não são, a priori, um impeditivo para a lei existir, desde que haja confiança de que Executivo e Anatel farão sua parte quando chegar a hora.

Os problemas que estão sendo colocados para o projeto não andar não são problemas de hoje. São impasses que existem e são plenamente conhecidos há mais de uma década. Tomemos a questão dos bens reversíveis. O grande problema está na interpretação do que sejam estes bens, um debate principiológico que já se arrasta na Anatel desde a primeira revisão dos contratos de concessão em 2005. A agência foi errática ao longo destes anos, por vezes pendendo a uma visão funcionalista, em outras pendendo para o patrimonialismo. Nessa dúvida, nunca se organizou adequadamente para acompanhar e manter o registro efetivo sobre os bens. E não foi por falta de aviso, porque desde 2011 a Proteste move uma ação contra a Anatel justamente sobre este tema, o que poderia ter servido para se construir uma jurisprudência sobre os bens reversíveis, para um lado ou outro, se a ação tivesse sido tratada como prioridade, como deveria.

O TCU, que esta semana surpreendentemente até defendeu a mudança de modelo das telecomunicações, mostra-se mais preocupado com os riscos da transição e, portanto, reforça a posição daqueles que preferem deixar tudo como está para ver como fica. Mas o órgão de controle parece se esquecer que ele mesmo foi bastante errático no trato dos bens reversíveis. Por exemplo, quando entendeu, na migração das concessões do Serviço Móvel Celular para as autorizações do Serviço Móvel Pessoal, em 2001, que não havia o que se falar indenização de um lado ou de outro. Depois disso, parece ter esquecido o que escreveu e adotou a linha de defesa de cada centavo representado por uma plaquinha de patrimônio, por mais sucateado que seja o patrimônio. O resultado foi a consagração, como bandeira da oposição, de uma estimativa do valor contábil de R$ 105 bilhões, que o TCU reconhece não ser um número sustentado por dados seguros, porque foram números compilados pela mesma Anatel que o tribunal acusa de não ter mantido um bom controle sobre os bens reversíveis.

O fato é que enquanto tudo isso acontece, um terço do Brasil segue desconectado, não existem políticas públicas para levar telefonia móvel a milhares de localidades e regiões remotas, os fundos de universalização seguem cobrindo o cheque especial do governo e o único projeto que poderia mudar o rumo das coisas caminha rapidamente para mais um período de limbo.

Cumprindo-se a promessa do senador Otto Alencar de não fazer nada com o texto na Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado, perdem aqueles que querem mais debate sobre o tema, perdem aqueles que defendem a aprovação do projeto, e morre de vez a chance de qualquer reforma do modelo no curto prazo. A lógica do calendário é incontornável: seja o PLC 79 ou qualquer projeto, se não sair este ano, só virá no meio de 2019, com sorte. Coloque-se mais um ano e meio até que a Anatel faça todos os ajustes regulatórios e contas necessárias (essas são as etapas mais críticas de um novo modelo, que mal foram iniciadas), chegamos rapidamente ao final de 2020 ou começo de 2021, quando se armam duas bombas-relógio. A primeira é que, até lá, mantidas as condições atuais, muito provavelmente as concessões serão devolvidas à União ou passarão a ser objeto de uma grande disputa de reequilíbrio econômico-financeiro. O governo terá que lidar com esse abacaxi.

Na mesma época, estará armada uma segunda bomba: o problema da renovação das autorizações de uso de espectro das operadoras celulares, que começam a vencer justamente a partir de 2020. Quando isso acontecer, sem o novo modelo, a Anatel terá como única opção um novo leilão para as faixas de frequência, uma variável bastante complexa de se adicionar justamente no momento em que deveriam ser implantadas as primeiras redes 5G e com o mercado de IoT já amadurecendo. Ou seja, ao não se resolver um problema agora, criam-se dois para o futuro próximo.

A aprovação do texto do PLC 79, como está, já se mostrou quase impossível, porque dependeria de mobilização política do governo, improvável e custosa nestes meses finais da passagem de Temer pela presidência. Mas com (muito) esforço de pactuação e bom senso, buscando-se estabelecer diretrizes para aplicação dos recursos a serem gerados pelo novo modelo e parâmetros mais claros sobre como seria a política de autorização de espectro após o novo marco legal, seria possível, em tese, ainda ter o texto do PLC 79 aprovado este semestre, mesmo que com algumas mudanças que precisariam ser referendadas pela Câmara no segundo semestre, nas poucas janelas de votação que costumam acontecer em setembro e após as eleições. Bom senso e diálogo têm sido gêneros escassos, contudo. De outro lado, a percepção de que o modelo atual de telecomunicações é anacrônico e insuficiente para as necessidades atuais da sociedade e das empresas é o que une a todos. Se houver saída, é por ai.

Fonte: Teletime News de 10 de maio de 2018, por Samuel Possebon.

Definição internacional de serviços OTT é contribuição brasileira

A contribuição brasileira na reunião do SG3 – grupo de trabalho da União Internacional de Telecomunicações (UIT) – resultou na definição de serviços over-the-top (OTTs), o que impacta a transmissão em grandes volumes de áudio e vídeo pela Internet, e que foi adotada pela entidade internacional. A informação foi dada em Brasília nesta quinta-feira, 10, pelo superintendente de Competição da Anatel e chefe da missão brasileira, Abraão Balbino, durante reunião de divulgação dos resultados da missão do grupo que aconteceu em Genebra (Suíça) em abril.

Segundo a recomendação adotada pela UIT, as OTTs são aplicações acessadas ou entregues na rede pública que podem substituir de forma direta ou funcional os serviços de telecomunicações tradicionais. Além disso, a recomendação aprovada busca promover a concorrência, a proteção do consumidor, a inovação e os investimentos e desenvolvimento de infraestrutura para aplicações OTTs, de acordo com o texto. Agora, os 192 países membros da UIT têm o prazo de um ano para se manifestar caso não queiram aderir individualmente ao documento. O "sim" significa que a recomendação será adotada na estruturação da política pública e da regulamentação nacional. Segundo informações da Anatel, participaram da reunião mais de 50 países com mais de 100 delegados.

Abraão Balbino destaca que a nova recomendação tende a desregular as OTTS e que isso deve ser feito pela identificação de mercados relevantes. Esse é um caminho diferente do adotado em países da União Europeia, que têm se manifestado favoráveis a uma maior regulação. Ele também explicou que a recomendação determina que os governos nacionais revejam toda a regulamentação que trata das relações entre OTTS e empresas de telecomunicações tradicionais – alguns países desejavam determinar os tópicos específicos para a revisão. Com isso, agora deverão ser estudados pelos membros do SG3 questões relativas a parcerias entre OTT e operadores tradicionais, e a proteção ao consumidor no ambiente de OTT em relação às prestadoras de telecomunicações tradicionais.

Proteção de Dados e Internet das Coisas

Em relação à proteção de dados e Internet das Coisas (IoT), o SG3 decidiu aprofundar os estudos com vistas a elaboração de futuras recomendações dentro de dois anos. Além disso, os membros do SG3 aceitaram a proposta brasileira de promover estudos a respeito de aspectos econômicos de roaming relacionados a IoT.

Sobre proteção de dados, os estudos devem abordar questões econômicas relacionadas ao big data e inteligência artificial, como falhas de mercado e soluções regulatórias. "Uma operadora tem uma informação do usuário, ela negocia com outro agente e tem o monopólio da informação. Assim é mais difícil outro concorrer", explicou o superintendente da Anatel.

Serviços Financeiros Móveis

O Brasil também presidiu a elaboração da recomendação sobre Serviços Financeiros Móveis. Importante para mercados no qual o agente dominante no sistema financeiro é também o principal agente de telecomunicações, o que ocorre em determinadas regiões da África ou da Ásia. O superintendente de Competição da Anatel informou que essa não é uma questão crítica no Brasil e que o Banco Central brasileiro possui diretrizes claras em relação ao tema.

Futuras Reuniões

Os países americanos devem se reunir em julho de 2018 na Costa Rica para continuar os trabalhos em nível regional. A próxima reunião do SG3 será de 23 de abril a 2 de maio de 2019 em Genebra. A delegação brasileira é composta por membros da Comissão Brasileira de Normalização de Telecomunicações (CBC3).

As CBCs são quatro: Governança e Regimes Internacionais (CBC 1); Radiocomunicações (CBC 2); Normalização de Telecomunicações (CBC 3); e Desenvolvimento das Telecomunicações (CBC 4). Por meio delas, a Anatel incentiva o engajamento da universidade e órgãos de pesquisa, das empresas e de outros órgãos do governo a contribuir diretamente para a projeção do País no cenário internacional.

As comissões são abertas à sociedade, o que permite que as posições defendidas pelo Brasil nos fóruns internacionais sejam formuladas de modo mais participativo. Para obter orientações sobre como participar das atividades desenvolvidas, é necessário enviar um e-mail para a CBC desejada.

Fonte: Teletime News de 10 de maio de 2018, pela Redação.

MCTIC sofre com orçamento baixo e falta de pessoal

O secretário-executivo do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Elton Zacarias, informou durante audiência pública na Câmara dos Deputados nesta quarta-feira, 9, que o orçamento para custeio e investimento da pasta para 2018 é de R$ 3,9 bilhões, com perspectivas para contingenciamento. Ele destacou que este número preocupa, pois em 2013 esses recursos eram da ordem de R$ 9 bilhões. Na visão do secretário, a tendência é que em 2019 a situação possa piorar em função da lei do teto de gastos públicos.

O secretário também informou que, além da redução de mais de 50% do orçamento em um período de cinco anos, o MCTIC ainda sofre com a falta de pessoal. Segundo Zacarias, há cerca de 1,4 mil vagas abertas no ministério e todos os institutos e estruturas ligadas a ele. "Este déficit de analistas e tecnólogos representa cerca de 25% do quadro de funcionários que temos hoje. Além disso, estamos sofrendo com o avanço das aposentadorias. Estamos pleiteando um concurso público junto ao Ministério do Planejamento, mas ainda não obtivemos resposta", revela.

O ministro da pasta, Gilberto Kassab, que também participou da audiência, pediu auxílio aos parlamentares para obter mais recursos e destacou que é importante que os parlamentares se movimentem no sentido de aprovar projetos que proíbam o contingenciamento de recursos dos fundos setoriais. Kassab reiterou que os recursos são fundamentais para o desenvolvimento da economia do País.

Fonte: Teletime News de 9 de maio de 2018, por André Silveira.

Para Anatel, valor dos bens reversíveis só podem ser calculados após sanção do PLC 79/2016

O presidente da Anatel, Juarez Quadros, destacou que o órgão regulador está pronto para realizar a regulamentação das mudanças no modelo de telecomunicações, estabelecida no PLC 79/2016. Segundo ele, o que garante isso é o fato de o Governo contemplar toda a proposta da agência para o orçamento de 2019. Porém, ressaltou que somente após a sanção da lei é que a agência irá definir o processo que estabelecerá o cálculo dos valores dos bens reversíveis. A Anatel, vale lembrar, chegou a realizar, no final de 2016, uma consulta pública com alterações no Plano Geral de Outorgas, mas que estavam vinculadas à mudança no marco legal, que nunca aconteceu. Com isso, a consulta pública acabou engavetada até segunda ordem.

"A agência irá contratar duas consultorias especializadas, e também uma auditoria independente, que nos auxiliarão a definir os valores", afirmou. Quadros, que participou de audiência pública na Comissão de Ciência e Tecnologia (CCT) do Senado nesta terça-feira, 8, também informou que orçamento da agencia já prevê recursos necessários para todo o trabalho para chegar o valor para adaptação "Mas precisa da lei".

O presidente da Comissão, senador Otto Alencar (PSD-BA), no entanto, acredita no caminho contrário. "O mais importante é chegar a um número real do patrimônio que está em discussão. É necessário fazer uma nova avaliação para chegarmos a este número e depois aprovarmos o projeto", sugeriu.

Etapas

Em sua exposição, Quadros considerou que o processo terá quatro estágios dentro de um cronograma. Em um primeiro momento, a lei é aprovada. Depois, serão necessários os decretos de regulamentação da legislação. Na sequência, a elaboração dos termos de migração das concessões para autorizações. E para o estabelecimento da regra, Quadros também destaca que plano estrutural de redes (Pert), que deve ser apresentado pelo Conselho Diretor da agência em breve e que irá auxiliar no processo de transição de concessão para autorização. O relator do plano é o conselheiro Aníbal Diniz.

Operadoras

Em função do início da ordem do dia no plenário, o presidente da CCT, Otto Alencar teve que encerrar a audiência e o representante das operadoras Carlos Duprat, diretor do SindiTelebrasil, não teve tempo de se manifestar. No entanto, em conversa com os jornalistas, ele deixou claro que o PLC 79 é importante para garantir a prestação do serviço, uma vez que o prazo das concessões se encerra em 2025 e não haverá interesse em renovação, caso as regras se mantenham.

Ele explicou que os acessos da telefonia fixa caem de forma vertiginosamente a cada ano. Segundo o executivo, até o ano passado, 70% do tráfego caiu e a previsão é de mais redução até 2025. "Vamos continuar, daqui para lá, continuar perdendo dinheiro em obrigações que ninguém mais quer? É isso que os senadores precisam avaliar", afirmou.

Fonte: Teletime News de 8 de maio de 2018, por André Silveira.

PLC 79 é inconstitucional e precisa da lista de bens reversíveis, diz Proteste

O PLC 79/2016, que altera o marco legal de telecomunicações, tem inconstitucionalidades e precisa ser discutido sem pressa, após um cálculo preciso da valorização dos bens reversíveis. A posição foi defendida pela conselheira da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor – Proteste, Flávia Lefèvre, durante audiência na Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática do Senado nesta terça-feira, 8. A representante da entidade voltou a alegar que os bens reversíveis teriam sido subvalorizados – o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações falou em R$ 17,2 bilhões durante a audiência.

Lefèvre diz que a Anatel e o antigo Ministério das Comunicações levantaram em 2013 o valor presente líquido para as redes de acesso na ordem de R$ 64,2 bilhões. Somado ao VPL de R$ 7,6 bilhões da rede de transporte, o valor total ficaria em R$ 71,9 bilhões, pelo menos na época. "Estamos falando de redes no Brasil inteiro e de obras de engenharia civil, como dutos e redes chegando à casa do consumidor. É difícil falar de R$ 17 bilhões, e essas redes são responsáveis por aproximadamente 50% do tráfego de dados no País, segundo dados do Cetic.br", declara a advogada da Proteste. A legislação atual fala que os bens reversíveis são aqueles necessários à prestação do serviço de voz, mas a interpretação de como se classificariam as redes que têm uso misto é controvertida. Por esta razão, o PLC 79 procura deixar mais claro que apenas a parcela das redes dedicadas à telefonia fixa seria reversível.

Para Lefèvre, o correto seria que , antes de tudo, seja fornecido uma lista de bens reversíveis "para a gente auferir qual o patrimônio em jogo". A Proteste entrou com uma Ação Civil Pública em 2011 que diz que há necessidade de garantir essa lista nos contratos de concessão. Em fevereiro deste ano, a decisão foi confirmada em acórdão no Tribunal Regional Federal, que rejeitou apelação da União e da Anatel.

Preocupação com a Anatel

A entidade ressalta também as preocupações levantadas pelo Tribunal de Contas da União, que identificou que a Anatel não teria condições de fiscalização para garantir a regulação das concessionárias e nem atuar no equilíbrio econômico-financeiro. "As diretrizes para migração dos contratos têm problemas graves, sérios, e que lesam o patrimônio público e a sociedade brasileira", afirma

Flávia Lefèvre lembra ainda de uma nota técnica da agência de dez anos atrás, na época da alteração da Lei de Orçamento e da incorporação da Brasil Telecom pela Oi. "A gente tem saldos não resolvidos em favor da concessão, o mais recente de R$ 3,5 bilhões reconhecidos pela própria Anatel, que aconteceu em 2008 com a troca de obrigações de postos de serviços de telecomunicações por rede de backhaul de banda larga." Segundo ela, 80% do total desses recursos foi utilizado para financiamento de serviço prestado em regime privado. "Por essa e outras razões que o TCU, ao analisar os riscos, já apontou o descontrole [da Anatel] pelo aspecto da regulação econômica dos contratos, e destacou no acórdão 3311/2015 uma série de problemas no controle dos bens reversíveis", declara.

Ainda no entendimento da representante da Proteste, o PLC 79 é inconstitucional porque determina que, na migração, a empresa poderia explorar serviços essenciais sem obrigações de universalização. "O que contraria, no nosso modo de ver, a Constituição Federal", afirma, citando ainda o Marco Civil da Internet ao justificar que o acesso à banda larga também é considerado serviço essencial, ainda que o MCI não a classifique como um serviço público, como fez a LGT com a telefonia fixa.

Lefèvre coloca que o Poder Executivo poderia agir via decreto para destravar a possibilidade de uso do Fust e Funttel para investimentos em suporte de acesso à Internet. Segundo ela, a mudança na LGT "pode e deve ser feita, mas em um ambiente mais tranquilo, com base mais aprofundadas e com informações que hoje não temos" – ou seja, o valor real dos bens reversíveis. Propõe não haver mais a proibição de subsídio cruzado, permitindo que parte da receita possa ser aplicada em políticas públicas de inclusão digital, e a previsão de normas que estimulem redes comunitárias.

Fonte: Teletime News de 8 de maio de 2018, por Bruno do Amaral.

segunda-feira, 7 de maio de 2018

Viasat alega que suspensão do contrato com a Telebras é "grave para o Brasil"

Após a Justiça manter liminar suspendendo o contrato com a Telebras, a Viasat emitiu comunicado nesta sexta-feira, 4, alegando que a decisão é "grave para o Brasil" por interromper os programas governamentais. A companhia norte-americana diz que o impedimento do uso do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicação (SGDC) prejudica o acesso à Internet para "milhares de estudantes" nas escolas "simplesmente porque concorrentes descontentes fizeram alegações falsas sobre a parceria entre a Telebras e a Viasat".

A companhia afirma que segue comprometida com o País e mantém a posição de que a parceria "é uma abordagem legal e inovadora para trazer benefícios sociais e econômicos para todo o Brasil". Declara ainda já ter investido "milhões de dólares no país" por meio de sua subsidiária, a Viasat Brasil, e que tem compromisso de investir mais e criar "milhares de empregos".

A empresa espera que a Justiça comprove a legalidade do contrato para então retomar o programa, levando em consideração que o satélite tem vida útil finita – argumento também usado pela Telebras em posicionamento na quinta-feira. "Não há razão válida para reter esse importante avanço e seus benefícios para a população brasileira na educação, saúde e na diminuição da exclusão digital", acredita a Viasat.

Confira o comunicado na íntegra abaixo:

A decisão desta quarta-feira, 3 de maio, é grave para o Brasil. Depois de anos de planejamento e do investimento de milhões de dólares, escolas, cidades e zonas rurais do Brasil estão próximas de receber a Internet de alta qualidade necessária para o seu desenvolvimento econômico e social. Agora, milhares de estudantes podem perder a oportunidade de ter acesso à Internet em suas escolas por meio do satélite SGDC-1, simplesmente porque concorrentes descontentes fizeram alegações falsas sobre a parceria entre a Telebras e a Viasat.
Apesar da decisão manter vigente a liminar até o momento, a Viasat segue comprometida com o Brasil para ajudar a conectar pessoas de todo o país à comunidade digital. Mantemos a nossa posição: a parceria entre Viasat e Telebras é uma abordagem legal e inovadora para trazer benefícios sociais e econômicos para todo o Brasil. A Viasat já investiu milhões de dólares no país por meio da sua subsidiária Viasat Brasil, comprometida a investir ainda mais e criar milhares de empregos, com sua comprovada tecnologia em Internet de alta velocidade. A Viasat e a Telebras estão investindo em regiões do país onde outras empresas não o fazem.
Acreditamos que, quando a Justiça analisar os processos que tentam impedir a parceria com a Telebras, irá comprovar a legalidade e os benefícios para a sociedade brasileira com essa parceria. A Viasat e a Telebras, então, retomarão o trabalho de oferecer acesso à Internet de alta qualidade a todo o território brasileiro. Não há razão válida para reter esse importante avanço e seus benefícios para a população brasileira na educação, saúde e na diminuição da exclusão digital. Os satélites possuem vida útil finita e, cada dia de processo, é um dia a mais no qual os benefícios do SGDC-1 não são entregues aos brasileiros.

Fonte: Teletime News de 4 de maio de 2018, por Bruno do Amaral.

Anatel sugere que saldo do PGMU 3 seja vinculado ao PERT

Em uma nova decisão dividida (3 x 2), em circuito deliberativo concluído nesta quinta-feira, 3, a Anatel decidiu que irá sugerir ao Ministério de Ciência , Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) que os recursos do saldo do Plano Geral de Metas de Universalização (PMGU 3) deverá ser vinculados às políticas públicas definidas pelo governo e ao PERT (Plano Estrutural de Redes de Telecomunicações). O PERT deverá ser colocado em consulta pública em breve. A proposta foi feita pelo presidente Juarez Quadros em seu voto. O conselho revisou o cálculo da área técnica referente aos saldos existentes e chegou a um número de R$ 3,7 bilhões.

O conselheiro Aníbal Diniz, que é o relator do PERT no Conselho Diretor, afirmou que em breve irá coloca-lo em pauta para a apreciação do colegiado. "O PERT será a resposta não só para os saldos do PGMU, mas para a aplicação de todos os recursos públicos do setor de telecomunicações", afirmou o conselheiro. Além de Aníbal Diniz e Quadros, Otávio Rodrigues também votou pelo mesmo encaminhamento.

Do outro lado, o conselheiro Emmanoel Campelo, relator do processo, manteve o seu voto proferido na análise do o Regulamento de Universalização, arquivado há duas semanas. Voto, aliás, que seguia a linha do conselheiro Leonardo Euler, em que era sugerido que se aplicasse os recursos na construção de redes de backhaul em fibra nos municípios não atendidos, a possibilidade de cobertura rural pela faixa de 450MHz, redução de tarifas ou enterramento de rede aérea em determinados municípios.

Saldo

Outra novidade foi o valor do saldo. Em princípio, a área técnica da agência chegou a R$ 3,3 bilhões, referentes às mudanças implementadas com a redução das obrigações de Terminais de Uso Público (TUPs), Postos de Serviço e backhaul. Em seu voto, que este noticiário teve acesso, o presidente do órgão regulador, Juarez Quadros, destaca que há uma discrepância e que o valor que a agencia entende como devido chega a quase R$ 3,7 bilhões. No entanto, o valor não encontra consenso junto às concessionárias do Serviço Telefônico Fixo Comutado (STFC), que questionam sobretudo o valor atribuído aos Postos de Serviços Multifacilidades (PSM).

Segundo levantamento feito pelo gabinete de Juarez Quadros, dos R$ 3,691 bilhões, a Oi tem um saldo de R$ 2,61 bilhões; a Vivo, R$ 494,9 milhões; Algar com R$ 36,84 milhões e; a Sercomtel com R$ 5,1 milhões.

A discussão no Conselho Diretor foi motivada por um ofício enviado pelo MCTIC em outubro do ano passado, em que solicitava que a agência apresente um plano de aplicação dos saldos do PGMU 3 e que também concilie, junto às concessionárias do STFC, os valores dos saldos remanescentes do PGMU.

Fonte: Teletime News de 3 de maio de 2018, por André Silveira.

TIM passa a oferecer VoIP ilimitado no WhatsApp

A TIM apresentou nesta quinta-feira, 3, em São Paulo, seu novo portfólio para pré-pago, controle e pós-pago em parceria com empresas over-the-top, incluindo recurso de chamadas de áudio ilimitadas pelo WhatsApp e franquia extra para reproduzir vídeos no YouTube. A estratégia de parcerias com provedores de serviços e conteúdo OTTs é um caminho natural para a operadora, mas não deixa de ser uma ruptura em relação ao posicionamento das teles de quase três anos atrás, quando o então presidente da Vivo e atual CEO da Telecom Italia (que é controladora da TIM Brasil), Amos Genish, chamou o aplicativo de "operadora pirata" por usar números e clientes "sem obrigações regulatórias, jurídicas e fiscais" enquanto competia com as teles tradicionais com o serviço de voz por IP. A mesma postura crítica chegou a ser adotada pelo governo na época.

De acordo com o COO da TIM Brasil, Pietro Labriola, as desavenças estão no passado. "Essa frase de que o WhatsApp era pirataria é de três anos atrás, não importa mais; em três anos o mercado muda muito", afirmou ele em coletiva de imprensa. "Não faz sentido ter briga sobre a modalidade que o cliente quer mais, e isso tem que ser um aprendizado para todas as operadoras de telecomunicações."

O contexto mudou não apenas para o aplicativo do Facebook. "Por essa razão, quatro ou cinco anos atrás poderíamos ler como algo que estava destruindo nosso modelo de negócio. Mas em 2011, a TIM foi 'pirataria de telecom' quando lançou oferta ilimitada de longa distância, não tínhamos nada a perder e ganhamos conta do mercado", compara Labriola.

Na prática, a parceria para oferecer o uso de VoIP ilimitado/zero rating acaba trazendo benefícios para a operadora. Isso porque o cliente que já tem recurso de voz tradicional ilimitada deixa de usar essa função para ligar via WhatsApp, gerando economia no custo de interconexão para a TIM. Nas contas da empresa, a economia ocorre no preço do custo da VU-M. "Para cada ligação que não vai na rede de outra operadora e que seja feita na rede do WhatsApp, teremos economia de R$ 0,05", declara. Segundo o executivo, tampouco a empresa está queimando receita com a iniciativa. "Não somos empresa que faz caridade, temos que lutar pelo resultado, [ter] o que o cliente quer e entregar [retorno] para o acionista."

O executivo confirma que as parcerias com OTTs não são de dados patrocinados. "Não é parceria comercial, eles não pagam para TIM e a TIM não paga para eles", declara. A estratégia é oferecer "mais por mais", repassando custos para o cliente em troca dos recursos. "O pacote de serviços precisa de R$ 20 adicionais, então o cliente vai pagar pelo serviço", conta. "O que é importante compartilhar é que coerentemente, o modelo de negócios é menos a competição no preço, é mais importante na fidelização do cliente", diz.

A parceria com OTTs não inclui apenas o VoIP no WhatsApp, mas também para os aplicativos Messenger (também do Facebook) e, futuramente, também com o Telegram – Labriola diz que gostaria de contar também com outros serviços, como Skype, mas não revelou se há negociações nessa direção. Há ainda a inclusão de redes sociais (Facebook, Instagram e Twitter) e apps de mobilidade (Easy Taxi e Waze) no mesmo modelo de zero-rating. Para o pacote de vídeos, disponível para clientes pós em planos com franquia acima de 10 GB, a companhia incluiu o YouTube (além de Netflix, Looke, Esporte Interativo e Cartoon Network) no modelo de dobro de franquia para gastar com esses serviços.

Fonte: Teletime News de 3 de maio de 2018, por Bruno do Amaral.

Arquivado recurso que pedia desconto na TV paga por exclusão dos canais da Simba

A Anatel arquivou nesta quinta-feira, 3, recurso do Instituto Nacional de Defesa do Consumidor (Inadec), que solicitava a redução dos valores das assinaturas de TV paga por conta do período em que a negociação entre a Simba Content (que representa Record, SBT e Rede TV) e as operadoras não havia sido bem sucedida. O Inadec é ligado ao deputado federal Celso Russomano (PRB/SP).

Segundo o conselheiro Aníbal Diniz, a Superintendência de Relações com os Consumidores entendeu que o pedido não procede, uma vez que se tratam de canais de TV aberta e "portanto, já disponíveis ao público sem custo".

Depois do desligamento do sinal analógico da TV aberta em São Paulo, em março de 2017, a Simba, criada para representar os interesses da Record, do SBT e da RedeTV, exigiu a retirada dos canais das programações nas operadoras Net, Claro, Embratel, Sky, Vivo e Oi, por falta de acordo sobre o preço. Meses depois, houve entendimento e os canais voltaram à programação. No ano passado, a Procuradoria Federal Especializada (PFE) já havia manifestado que não cabe desconto neste caso.

Fonte: Teletime News de 3 de maio de 2018, por André Silveira..

CGI.br quer participar de discussão no STF sobre acesso a dados no exterior

O Comitê Gestor da Internet (CGI.br) quer entrar na discussão no Supremo Tribunal Federal sobre a jurisdição e aplicação da legislação brasileira no acesso a conteúdo privado na Internet armazenado fora do Brasil. O assunto foi discutido a reunião da entidade no final de março, quando foi definida a participação como amicus curiae (amigo da Corte) na próxima audiência sobre a Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) 51 no STF. A ata formalizando a decisão foi aprovada na reunião da semana passada.

A ação foi ajuizada no final de novembro do ano passado pela Federação das Associações das Empresas de Tecnologia da Informação, a Assespro Nacional. A última audiência sobre o tema aconteceu no dia 4 de abril, a pedido do ministro relator, Gilmar Mendes. A Procuradora-Geral da Republica, Raquel Dodge, defendeu em parecer posição contrária à ADC 51, justificando que a aplicativos com sede no exterior devem obedecer à legislação brasileira.

Conforme a ata aprovada no dia 27 de abril, os conselheiros do CGI entenderam que era necessária a participação da entidade em uma próxima audiência no STF. Porém, não chegaram a um consenso sobre qual posição o Comitê deverá adotar – enquanto alguns defendiam uma postura mais técnica, sem tomar partido, outros entenderam que seria necessário se posicionar para defender o artigo 11 do Marco Civil da Internet, que já trata das requisições de dados em ordem judicial.

Ficou acertada a elaboração de um rascunho inicial sobre o tema, que será circulado entre conselheiros do Grupo de Trabalho de Relacionamento com Poder Judiciário, que é composto pelos conselheiros Demi Getschko, Eduardo Parajo, Flávia Lefèvre, Luiz Fernando Martins Castro (designado como coordenador), Marcos Dantas Loureiro, Otávio Luiz Rodrigues Júnior, Tanara Lauschner e Thiago Tavares Nunes de Oliveira. Obtido um consenso no GT, o documento será encaminhado ao pleno do Comitê para a aprovação.

O STF já aceitou como amicus curiae na ADC 51 o Facebook, o Yahoo, o Instituto de Referência em Internet e Sociedade (Iris) e a Sociedade de Usuários de Tecnologia (Sucesu Nacional).

Subsídios

Para esclarecer o tema, o Comitê recebeu participação de representantes do Ministério Público Federal e do Ministério da Justiça, que justificaram ser contra a aplicação generalizada do acordo de assistência judiciário-penal entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos, o Mutual Legal Assistance Treaty (MLAT), argumentando que tal medida adicionaria burocracia e dificultaria a obtenção dos dados. Defendendo a aplicação do tratado estavam representantes da Assespro, incluindo o ex-ministro do STF e advogado da entidade, Carlos Ayres Britto.

A posição do MPF é de que a argumentação das empresas se baseia em "premissas equivocadas e contraria a legislação pátria frontalmente". Isso porque o Código de Processo Civil estabelece que o Judiciário tem jurisdição sobre empresas brasileiras e também estrangeiras com agência, filial ou sucursal no País. E que a legislação internacional reconhece essa mesma regra de jurisdição.

Diz ainda que o artigo 11 do Marco Civil não deveria ser interpretado apenas com aplicação "em parte" para a preservação do sigilo, e que por isso a obtenção de dados deveria ser seguido o processo de cooperação internacional. No entender do MPF, não é possível impor limites à regra de jurisdição do artigo 11 justamente porque o dispositivo estabelece "de forma bastante incisiva" que a legislação brasileira deverá ser respeitada quando uma das atividades ocorrer em território nacional, e que a forma de obtenção é tão importante quanto a guarda. O MLAT, portanto, só deveria ser usado se o Judiciário brasileiro não tiver jurisdição sobre a prova. Alega também que há "aspecto ilógico" da defesa de jurisdição aplicável "apenas quando a matriz estrangeira da empresa brasileira entender cabível".

A nota técnica da Procuradoria-Geral da República também é contra a aplicação do MLAT nesses casos, afirmando que o local da sede da empresa ou do armazenamento de dados não pode determinar a jurisdição. Cita o regulamento geral de proteção de dados da União Europeia, o GDPR, que também assegura jurisdição ao país-membro sobre os dados nele recolhidos. "Admitir que o Brasil, país que está na vanguarda da questão, somente tem meia jurisdição sobre dados de provedores de Internet recolhidos no Brasil a partir de serviços oferecidos no Brasil, excluindo-se o conteúdo, vai na contramão da comunidade internacional", declara. Afirma que, como consequência, "seria rasgado o Marco Civil da Internet", e que deixar o MLAT como única opção em investigações criminais inviabilizaria esses processos.

O Ministério da Justiça também discordou da aplicação do acordo bilateral anglo-brasileiro para qualquer investigação. Alegou que isso dificulta a obtenção de dados, uma vez que apenas 22,5% dos pedidos aceitos pela justiça dos EUA, que levam em média 13 meses para atender às requisições.

Por outro lado, a Assespro defende que o MLAT deve ser entendido como um complemento ao Marco Civil da Internet, reiterando que defende a lei. Diz ainda que em investigações de crimes mais graves como pedofilia, ameaça à vida e sequestros, por exemplo, é possível a troca de informações de forma automática, pois é uma exceção expressa da lei. "O afastamento da aplicabilidade, por pretensos fundamentos constitucionais, dos mecanismos de cooperação jurídica internacional, como é o caso do MLAT, além de indevidamente afastar a constitucionalidade do Decreto 3810/2001, não ameaça em nenhum momento a soberania nacional. Pelo contrário, esta lei que institui a cooperação internacional, negociada pelo Executivo e aprovada pelo Congresso dentro do rito previsto, é a expressão desta soberania", afirmou em comunicado o advogado do caso e ex-ministro do STF, Carlos Ayres Britto.

Segundo a Assespro, há casos em que o MLAT é obtido em dez dias. E que o acordo está incorporado à legislação brasileira, e que é necessário pensar no dispositivo como uma via de duas mãos, com reciprocidade.

Fonte: Teletime News de 2 de maio de 2018, por Bruno do Amaral.

As lições do TAC da Telefônica

A rejeição do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) da Telefônica foi um episódio marcante da história da Anatel e que deverá ter algumas consequências importantes não apenas para a empresa, mas para todo setor, inclusive para outras prestadoras de serviço que buscam o mesmo instrumento de ajuste de conduta com a agência. Apesar de Telefônica e Oi (cujo TAC foi rejeitado no ano passado) terem tido as maiores negociações em valores absolutos de multas e contrapartidas de investimentos (somados, os dois TACs representavam mais de R$ 10 bilhões), este noticiário apurou que pelo menos no caso da Algar, cujo TAC já está no conselho diretor, há a previsão de uma contrapartida adicional semelhante à da Telefônica para a construção de redes de acesso por fibra (FTTH) em alguns municípios. A tendência é que o conselho diretor da agência rejeite essa possibilidade, assim como fez com o TAC da Telefônica.

Aliás, a tendência é que o conselho seja muito mais criterioso na seleção de projetos que incluam a construção de redes, assegurando que estas redes não possam, de maneira alguma, configurar qualquer tipo de expansão da infraestrutura de uma prestadora para áreas em que haja competição. Destaque-se que esse aspecto foi apontado inclusive pelo conselheiro Leonardo Euler, relator da matéria e que foi voto vencido em sua proposta de dar continuidade às negociações com a Telefônica. O conselheiro votou pela rejeição dos compromissos adicionais de FTTH. Conforme o voto do conselheiro Euler de Morais, os projetos de compromissos adicionais que incluam a construção de infraestrutura devem ser alinhados ao PERT, o Plano Estrutural de Redes de Telecomunicações, ainda em fase de análise pelo conselho, mas que elenca os municípios onde há carência de backhaul em fibra ou redes móveis em distritos não-sedes de municípios.

Prazos

Mas estas não foram as únicas consequências do TAC da Telefônica. Ao ser rejeitado pelo conselho, reverteu-se uma jurisprudência do próprio colegiado: a de que seriam possíveis negociações fora do prazo inicial previsto no Regulamento de TACs. Isso é um problema que todos os processos de TAC ainda em curso podem apresentar, pois em todos eles houve negociações que não obedeceram rigorosamente aos prazos regulamentares, uma vez que havia precedentes dos TACs da Oi e da Telefônica. No caso destes dois TACs rejeitados, os prazos de negociação foram flexibilizados pelo conselho (em momentos anteriores, com composições diferentes da atual). No caso da Oi, por exemplo, a flexibilidade dos prazos regulamentares sequer foi apontado como motivo para rejeição. A este questionamento, um integrante do colegiado da Anatel explica a mudança de posição: "um erro não pode justificar o outro", dando a entender que as decisões anteriores da Anatel foram equivocadas e justificando, assim, a nova jurisprudência sobre prazos.

Prejudicialidade

Outra consequência do processo do TAC da Telefônica é a introdução de um novo conceito aos critérios de escolha de relator e abstenção de voto: o da prejudicialidade. Este conceito jurídico foi trazido pelo conselheiro Otávio Rodrigues para justificar as razões pelas quais ele não poderia relatar o TAC da Telefônica. Ao ter rejeitado o TAC em uma primeira votação mas ter sido vencido, não faria sentido se posicionar sobre novos desdobramentos, já que, na origem, era contra a celebração do TAC. O tema foi motivo de divergência por parte do relator Leonardo Euler, que procurou a procuradoria da Anatel para esclarecer a questão. E a procuradoria entendeu que a figura da prejudicialidade não está prevista no regimento da agência, onde só está prevista a abstenção por impedimento ou suspeição. Mesmo assim, foi utilizada a figura da prejudicialidade no TAC da Telefônica, pelo menos para justificar a troca de relatoria. Depois da votação, ficou no ar a possibilidade de que o mesmo princípios seja invocado por outros conselheiros em casos futuros, o que, no limite, pode levar o conselho a não ter quorum mínimo para votações ou ficar em permanente situação de empate. Seria necessário rever o regimento para evitar este risco.

Análise: as lições subjetivas do TAC

O TAC da Telefônica também expôs um problema sério da agência: a ausência de informações detalhadas sobre a cobertura de redes de acesso nos municípios brasileiros. A Anatel foi surpreendida com os diversos estudos apresentados por pequenos provedores e também pelas operadoras Claro e TIM mostrando que em muitas das cidades a serem atendidas pela Telefônica havia competição intensa com redes de fibra. A agência não teve condições de refutar os dados ou propor ajustes de cobertura da Telefônica para assegurar o atendimento apenas de ruas e bairros não cobertos, porque sua base de dados não inclui mapas precisos de onde estão as redes de fibra.

O papel do TCU também foi determinante para o final do TAC da Telefônica. No princípio da polêmica, a área técnica do Tribunal de Contas colocou a Anatel na defensiva ao responsabilizar o conselho diretor por danos milionários. Ao final, o acórdão dos ministros do TCU não só trouxe alívio ao conselho da agência como acabou sendo positivo para a consolidação do mecanismo de TACs. Mas a Anatel, pressionada pelos prazos de prescrição das multas e pelas dificuldades de justificar os compromissos adicionais em fibra (e também pelo medo de, novamente, ter que se justificar aos órgãos de controle por decisões que envolviam bilhões aos cofres públicos), acabou não aproveitando a janela aberta pelo TCU para consolidar o instrumento de Termos de Ajustamento de Conduta no setor de telecomunicações.

O processo do TAC da Telefônica também foi traumático na relação entre conselho diretor e equipe técnica. Desde o começo da negociação do TAC, as manifestações das superintendências e da comissão de negociação do termo de ajustamento de condutas enfrentaram resistências em gabinetes do conselho diretor. Segundo fontes da área técnica da agência, as negociações se davam em dois níveis, sendo que muitas vezes o que era negociado pelo conselho era diametralmente oposto ao que recomendava a equipe técnica. Essa dissonância gerou tantos atritos entre corpo técnico e conselho que duas servidoras da Anatel acabaram afastadas de suas funções de confiança no meio do processo de negociação do TAC da Telefônica, gerando grande mal-estar dentro da agência.

Por fim, o TAC da Telefônica levou o setor de telecom a um enfrentamento direto entre as empresas, que teve seu ponto mais ruidoso na audiência pública realizada no ano passado na Câmara dos Deputados, em que a Anatel e Telefônica foram chamadas a dar explicações sobre as negociações. A briga pública entre as operadoras, no nível de temperatura alcançado, também é apontada por diversas fontes da agência como um dos motivos que levaram o conselho a rejeitar o TAC. Se o próprio setor não mostrou disposição de defender o instrumento dos Termos de Ajustamento de Conduta, não seria a Anatel a levantar a bandeira, disse um conselheiro. Para outro interlocutor, o grande erro da agência foi ter tentado TACs gigantes logo de cara. Se tivesse começado com um pequeno teste, a curva de aprendizado teria sido menos traumática e com melhores resultados, aposta.

Fato é que os Termos de Ajustamento de Conduta no setor de telecomunicações estão praticamente enterrados, pelo menos na proporção e montantes que se imaginava. As multas que a Oi tentava trocar por investimentos em seus Termos de Ajustamento de Conduta, rejeitados no ano passado, serão pagas, se forem mantidas pela Justiça, apenas daqui a 20 anos. As multas da Telefônica certamente também serão judicializadas e ficarão em disputa por quase uma década.


Fonte: Teletime News de 3 de maio de 2018, por Samuel Possebon.

Parecer chama a atenção para consequências do PLC 79/2016

Já existe pelo menos um parecer sobre a mesa do senador Flexa Ribeiro (PSDB/PA) para instruir seu voto sobre o PLC 79/2016, que trata do novo modelo de telecomunicações. Na próxima semana será realizada a audiência pública da Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Inovação do Senado sobre o tema. 

O parecer entregue a Flexa e outros senadores sobre o tema foi produzido pelo consultor legislativo do Senado, Marcus Martins, ex-presidente do conselho consultivo da Anatel e assessor da ex-conselheira Emília Ribeiro na Anatel. Em relação ao mérito da matéria, a Nota Informativa 892/2018, de abril deste ano, reitera, em linhas gerais, a Nota Informativa 129/2017, produzida pelo mesmo consultor quando o PLC 79 já estava para ser enviado para sanção presidencial, em janeiro de 2017. Mas há algumas diferenças importantes.

Fontes próximas ao senador indicam que a tendência, no momento, é que ele opine em seu relatório pela aprovação do projeto sem alterações, ainda que ele, pessoalmente, se mostre incomodado com a ausência de previsão para aplicação compulsória dos recursos nas regiões Norte e Nordeste. Flexa tem manifestado prioridade ao projeto e pressa em concluir a votação na comissão.

Radiodifusão

Um dos aspectos novos destacados pela Nota Informativa do consultor legislativo é sobre o artigo 11 do projeto, que promove mudanças da Lei do Fust para deixar claro que o setor de radiodifusão não deve recolher o fundo de universalização. A Nota Informativa recupera toda a polêmica sobre o tema, com as decisões judiciais e pareceres da Anatel e do então Ministério das Comunicações, e chama a atenção ainda para o parecer da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, já abordado por este noticiário, que segue a linha do parecer da Anatel e indica que o Fust deve ser cobrado da receita das empresas radiodifusoras. O parecer de Marcus Martins chama a atenção de que a alteração promovida pelo PLC 79 na Lei do Fust eliminaria a hipótese de cobrança do Fust sobre os serviços de radiodifusão a partir da vigência da nova lei, "com potencial redução na arrecadação do Fundo". Lembrando que a Anatel explicou a este noticiário que a cobrança ainda é objeto de discussão e que até o momento não foi feita nenhuma cobrança por parte da agência. O tratamento a ser dado pela Anatel está para ser decidido pela Advocacia Geral da União.

Renovação de radiofrequência

O senador tem conversado com poucas pessoas sobre o seu relatório. Um dos poucos interlocutores de Flexa Ribeiro, contudo, diz que os artigos 8, 9 e 13 do PLC 79, que tratam da questão do espectro, têm sido objeto de conversas. A nota informativa não faz juízo sobre o tema, mas chama a atenção para uma eventual perda arrecadatória e para a restrição a eventuais novos entrantes. "Pelas regras vigentes, o término do prazo de direito de uso de radiofrequência implica a devolução da respectiva faixa ao Poder Público e uma posterior nova licitação. Com as regras sugeridas pelo PLC 79/2016, as faixas já autorizadas, e renovadas, deixariam de ser objeto de nova licitação, e o valor arrecadado, considerando os leilões e eventuais ágios deles decorrentes, seria substituído por preço público de utilização de radiofrequências arbitrado pela Anatel", diz o texto. A nota diz ainda que "a disciplina proposta restringe a entrada de outros interessados na exploração do uso do espectro radioelétrico, mantendo o mercado restrito às atuais operadoras". Para o consultor, a evolução tecnológica e aplicações futuras "podem valorizar sobremaneira as faixas". Martins repete então o parecer do Ministério Público apresentado durante a tramitação do PLC 79 em 2017, parecer este que fazia críticas ao modelo de mercado secundário de espectro (outra possibilidade aberta pelo PLC 79) e a um eventual risco de monopólio dos atuais detentores de radiofrequências. Há ainda um risco legal: as faixas licitadas tinham como horizonte uma renovação de uma única vez após 15 anos de uso, e em cima disso foi definido o seu valor e se estabeleceu a concorrência e o interesse nos leilões. Mudar essa regra hoje abriria margem para uma contestação por parte daqueles que perderam a disputa.

Outros interlocutores do senador Flexa Ribeiro têm manifestado posição diversa da posição do consultor legislativo e do parecer do Ministério Público. Lembram que a radiodifusão, por exemplo, também tem renovação indefinida de espectro. Mas, mais importante, ressaltam que em qualquer situação caberá sempre à Anatel decidir pelo interesse ou não de renovar a autorização de uso do espectro, conforme o interesse público, e de estabelecer o preço por isso. A mudança trazida pelo PLC 79, na prática, apenas daria à Anatel mais uma opção, de manter o espectro sob o controle do atual ocupante, cobrando por isso o que julgar adequado. Cita-se o risco de interrupção de operações com dezenas de milhões de clientes (como as operadoras móveis) e a imprevisibilidade para futuros investimentos em rede caso o espectro tenha necessariamente que ir a leilão para ter seu direito de uso renovado.

Outro aspecto que tem sido lembrado a Flexa Ribeiro nas regras de uso do espectro é que elas asseguram uma certa "unidade setorial" de apoio ao projeto. É um tema que interessa às duas empresas que não têm atuação relevante como concessionária (TIM e Claro) e que, com essas mudanças, enxergam benefícios do PLC 79 a todo o setor, e não apenas às prestadoras do serviço de STFC em regime público.

Mudança no regime de concessão

Sobre a principal mudança promovida pelo PLC 79/2016, que é a possibilidade de mudança para o regime de concessão para autorização, a Nota Informativa do consultor legislativo destaca o fato de que o regime de concessão pode deixar de existir por completo, mantida como única garantia de atendimento a exigência de oferta pelas empresas nas regiões hoje cobertas. O documento chama ainda a atenção para a incorporação, em lei, da visão funcionalista dos bens reversíveis, e ressalta que essa definição é crucial para o projeto porque é sobre isso que será calculado o valor da migração da concessão para autorização.

A nota reitera os números do TCU sobre os bens reversíveis (R$ 105 bilhões de valor patromonial apurado em 2013 e R$ 17,7 bilhões de valor não amortizado), ressaltando que esses valores não devem se confundir com o valor presente e sobre a própria mudança no conceito de bens reversíveis, que impacta o cálculo, bem como nas inconsistências encontradas na relação dos bens. A nota ainda traz vários alertas, feitos pelo TCU, sobre a fiscalização deficiente da agência em relação aos bens e dificuldades que a agência poderia ver a ter para fiscalizar os compromissos a serem assumidos pelas empresas para a migração. A Nota Informativa ainda alerta para o fato de, indiretamente, o contrato de concessão das operadoras de STFC estabelece que entre os bens reversíveis deve-se considerar que se o serviço de STFC passou a ser prestado por redes decorrentes de atualizações tecnológicas, estas redes também se tornam reversíveis.

Por fim, com os mesmos argumentos colocados para a possibilidade de renovação indefinida da autorização de uso do espectro, a Nota Informativa chama a atenção para o risco de fechamento de mercado e potencial redução da arrecadação caso as regras de renovação de órbita sejam flexibilizadas.

Fonte: Teletime News de 2 de maio de 2018, por Samuel Possebon.

American Tower investe na promoção de ecossistema para IoT

Com uma estratégia de ampliação de atuação no compartilhamento de infraestrutura de telecomunicações, a companhia de torres American Tower do Brasil (ATC) anunciou um centro de experiência e desenvolvimento de Internet das Coisas, o IoT Open Labs. A proposta da empresa é de estimular o ecossistema de hardware e software ao fornecer local para parceiros, clientes, desenvolvedores e estudantes onde possam experimentar, interagir e testar aplicações IoT funcionando em uma rede real baseada em LPWAN (longo alcance e baixo consumo de energia) com a tecnologia LoRa, utilizando a faixa não licenciada de 900 MHz e baixo custo. A iniciativa é uma parceria com a parceira tecnológica Everynet e a parceria de infraestrutura e suporte acadêmico BandTec Digital School.

A ideia da ATC é que o centro seja um catalisador do ecossistema de aplicações para o desenvolvimento e implantação para IoT. Para tanto, disponibiliza o espaço dedicado com cursos de capacitação e especialização nas tecnologias de rede e aplicações para a Internet das Coisas.

A rede LoRa da American Tower está sendo implantada desde o ano passado nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, cobrindo as respectivas regiões metropolitanas. Desde o início de 2018, está em fase de testes com "parceiros estratégicos", mas usando ambiente real. A ideia é que a rede esteja funcionando em caráter comercial até o final deste ano, com cobertura em mais de 80 cidades com 2 mil sites.

A rede é disponibilizada para usuários com perfil de atacado, que necessitam da infraestrutura com baixo custo para suportar ou complementar soluções e aplicações de IoT para usuários finais. A rede neutra também pode ter uso próprio para atividades empresariais. A companhia pensa em aplicações como cidades inteligentes, medição remota (energia, água ou gás), rastreamento de ativos e agropecuária.

Com 19 mil sites no Brasil, a American Tower é a terceira no mercado de torres no País. Desde sua chegada em 2001, a companhia investiu R$ 8 bilhões no mercado brasileiro, sendo 75% desse total nos últimos quatro anos. A companhia adquiriu no final de 2014 a BR Towers em uma operação de US$ 1 bilhão. Ao todo, incluindo os mercados na América Latina, Estados Unidos, África, Índia e Europa, conta com 150 mil sites.

Fonte: Teletime News de 2 de maio de 2018, por Bruno do Amaral.

Autorizadas têm crescimento, mas telefonia fixa continua a mostrar queda em março

A telefonia fixa perdeu 94,5 mil acessos em março, diminuindo em 0,23% a base e totalizando 40,459 milhões de linhas, segundo dados divulgados nesta sexta-feira, 27, pela Anatel. Em 12 meses, a redução foi de 1,208 milhão de acessos, uma queda de 2,90%.

Do total, 17,138 milhões de linhas eram de autorizadas, que perderam 0,12% da base no comparativo anual, ou 20,5 mil desconexões. Em relação a fevereiro deste ano, contudo, houve aumento de 0,13% nesses acessos. Outras 23,320 milhões eram de linhas de concessionárias, que reduziram a base em 4,85% no ano. Comparado ao mês anterior, a redução foi de 0,50%.

O grupo Claro Brasil (Claro, Embratel e Net) tinha 63,1% do mercado de autorizadas em março, total de 10,818 milhões de acessos. A Telefônica encerrou o mês com 27,87% (4,777 milhões de acessos), enquanto a TIM teve 4,31% (739,4 mil linhas). De acordo com a Anatel, quem teve maior crescimento em 12 meses foi a Algar Telecom (35,08%), TIM (7,22%) e Oi (3,56%). No comparativo com fevereiro, a Algar exibiu crescimento de 1,78%, enquanto a Cabo teve 1,26% e a TIM, 0,35%.

No mercado de concessionárias de STFC, a Oi manteve a liderança com 56,03% do mercado 13,065 milhões de linhas), seguida de Telefônica (40,01%, ou 9,330 milhões de acessos) e Algar Telecom (3,24%, ou 756 mil acessos). Nesse recorte, Claro (4,23%) e Algar (2,30%) exibiram crescimento no comparativo anual. Em relação a março, apenas a Claro (0,22%) mostrou aumento na base.

Fonte: Teletime News de 27 de abril de 2018, por Bruno do Amaral.

Governo vs. teles: o que deu errado na agenda Temer?

Nos últimos 20 anos desde a privatização das telecomunicações ainda não se tinha visto, em nenhum momento, as empresas do setor se insurgindo contra o governo ou contra políticas públicas setoriais. Em várias ocasiões, o descontentamento foi grande, como quando o então recém-eleito governo Lula decidiu segurar no grito o reajuste tarifário de telefonia, em 2003, ou mesmo quando o Plano Nacional de Banda Larga foi estabelecido, recriando a Telebras, em 2010. Mas nos últimos dois dias a coisa mudou de figura. Dois dos principais sindicatos patronais do setor, o Sinditelebrasil e o Sindisat, entraram na Justiça contra duas das principais bandeiras políticas do governo: o programa Gesac (que tem uma relação umbilical com a principal política governamental atual no setor, o Internet para Todos) e contra o modelo de exploração do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicação, o SGDC.

Não deixa de ser curioso que este nível de indisposição tenha se dado justamente no governo Temer, que assumiu em 2016 com a bandeira pró-mercado, pró-iniciativa privada, contra o superdimensionamento estatal e disposto a tudo para criar uma pauta que atraísse investimentos privados. Pelo menos este era o discurso antes e imediatamente depois do impeachment. Mas esta agenda liberal não se materializou no setor de telecomunicações.

Talvez houvesse uma expectativa no mercado de que, derrubado o governo Dilma, a Telebras seria extinta, ou reduzida ao mínimo. Isso não aconteceu. A Telebras se tornou maior desde então, e passou a disputar espaço comercial com as empresas na oferta de serviços ao governo. A estatal virou objeto de elogios públicos do presidente Temer (vide o discurso do presidente na Futurecom de 2017) e se tornou a principal articuladora das bandeiras do ministro Gilberto Kassab, que segue exaltando os impactos positivos que a atuação da estatal pode trazer aos municípios que visita em suas atividades políticas.

Abacaxi

É verdade que o governo Temer assumiu com um grande abacaxi para descascar chamado SGDC. O satélite estava contratado desde 2013, no primeiro governo Dilma, e em 2016 já havia passado do ponto de ser cancelado sem um prejuízo imenso para o erário. A opção do governo era pagar o que faltava e ficar com o satélite, ou perder tudo. O governo fez um esforço final, arrumou mais R$ 1 bilhão em um cenário de profunda crise fiscal, terminou e lançou o satélite, ao custo total de R$ 3 bilhões. O SGDC foi, originalmente, concebido para ser a solução de conectividade para todo o território nacional (incluindo a porção oceânica), pelo qual seriam atendidas políticas públicas, todas elas subsidiadas com recursos orçamentários, além de atender aos órgãos de Defesa com a banda X. Só que em 2016 o orçamento havia secado e o satélite teria que subir de qualquer maneira, sem garantias de orçamento futuro para mantê-lo.

A saída do governo foi trabalha em um modelo de exploração comercial do satélite, em que parte ficaria com a iniciativa privada e parte ficaria reservado para atender a Telebras em suas obrigações do PNBL. Obrigações estas, diga-se de passagem, que poderiam ter sido alteradas pelo governo Temer, mas que foram mantidas tal qual concebidas por Lula e reiteradas por Dilma.

O modelo de exploração privada originalmente previsto fracassou no ano passado, com o leilão do SGDC restando vazio. O mercado não mostrou interesse nas condições apresentadas pela Telebras. Condições estas estabelecidas dentro da lógica da administração pública, ferrenhamente defendida pelo Tribunal de Contas da União e outros órgãos de controle, em que não pode existir risco ao Tesouro. Ou seja, o governo criou um gasto de R$ 3 bilhões ao contratar, construir e lançar um satélite destinado a atender políticas públicas que seriam bancadas pelo orçamento, mas ao ficar sem orçamento direto para remunerar o investimento, teve que se virar para recuperar esse valor de outra forma. Uma conta complicada de fechar.

Surgiu então uma solução: uma operadora de satélites e fabricante de equipamentos norte-americana chamada Viasat, respeitada em sua área de atuação e com grande experiência na oferta de serviços a governos, assegurou à Telebras ter um modelo em que, explorando comercialmente o satélite, conseguiria ajudar a remunerar a estatal de modo a devolver aos cofres públicos o investimento de R$ 3 bilhões. Conseguiria ainda instalar todos os equipamentos que a Telebras necessitasse para as suas políticas públicas, a preços supostamente muito menores do que os de mercado (estes valores não são conhecidos), em tempo recorde.

A Viasat, diga-se de passagem, entraria no mercado brasileiro de uma forma ou de outra, mas possivelmente daqui a alguns anos, depois que seu novo satélite com altíssima capacidade para a cobertura total das Américas, o Viasat 3 (com seus inéditos 1 Tbps), estiver em órbita e operante. Com o SGDC, a empresa viu, provavelmente, uma oportunidade de ganhar dois ou três anos em seu business plan para o Brasil. De quebra, a Viasat ainda promete ter um modelo para viabilizar o programa Internet para Todos, oferecendo conexão a áreas remotas e sem interesse comercial a preços razoáveis. Não se sabe quanto será esse valor cobrado dos consumidores, nem qual será a remuneração da Telebras, nem quanto a Telebras pagará à Viasat pelos equipamentos, nem se de fato estas seriam as melhores condições possíveis de exploração do SGDC. Pontos que ainda estão bastante nebulosos e que precisam ser explicados, explicitados ou, no mínimo, atestados pelos órgãos de controle. Lembrando que a Telebras, desde que anunciou a parceria com a Viasat, só falou por meio de poucas notas oficiais.

Contratos

É claro que, sozinha, a Viasat não resolve o problema da Telebras. O governo também ajudou, não apenas fazendo os aportes para cobrir os seguidos prejuízos da estatal desde que foi recriada, mas também dando a ela (ou a colocando na disputa por) alguns contratos valiosos, como o programa de conexão das escolas do Ministério da Educação (Programa Educação Conectada), o atendimento a postos de saúde do Ministério da Saúde (Programa Prontuário Eletrônico), o Gesac e diversos contratos de órgãos do governo e estatais, como Dataprev. Até mesmo uma alternativa para viabilizar a redução da carga tributária foi encontrada, com a isenção do ICMS no caso do Internet para Todos via enquadramento no Gesac, algo que as teles privadas sempre buscaram para suas operações comerciais e nunca conseguiram.

Todos esses contratos que a Telebras está levando estão fortemente amarrados no SGDC, o que faz com que a necessidade de um segundo satélite cresça a cada dia. Uma conta de padaria mostra que os 60 Gbps do SGDC, por mais expressivos que sejam (e ele é, de longe, o melhor satélite em banda Ka a cobrir o Brasil), não dão conta dos milhares de pontos que estão sendo propagandeados pelo governo: 18 mil pontos do Gesac a 10 Mbps, 30 mil localidades do Internet para Todos (não se sabe a capacidade, mas o governo fala em 80 mil pontos), mais 22 mil pontos do programa Educação Conectada do MEC, mais 40 mil Unidades Básicas de Saúde… Com todos os contratos que estão sendo colocados, estima-se que a Telebras operará, em alguns anos, acima de 200 mil pontos com o SGDC (cada ponto é uma VSAT a ser instalada). Tudo isso, em tese, dependendo da perenidade do orçamento público destes órgãos e num modelo de operação fortemente dependente dos parceiros, já que a estatal em si tem pouco mais de 400 funcionários e uma fração do tamanho das operadoras privadas de telecomunicações com as quais compete. Um desafio e tanto.

O governo Temer, ao assumir, tinha a opção de desidratar a Telebras, amargar os prejuízos do projeto do SGDC e seguir com prometida agenda pró-mercado, pró-iniciativa privada e liberalizante. Optou por manter a estatal em pé e dar-lhe corpo. Com isso, não apenas frustrou as expectativas do setor empresarial como adicionou concorrência a um mercado que há muito reclama de caminhar para a inviabilização econômica, seja pela carga regulatória, pela carga tributária ou pelo excesso de competição.

O governo vê a reação das teles como um movimento de simples defesa de seus interesses comerciais, "choro de concorrente". Não deixa de ser verdade: as empresas gritam mais quando aperta no bolso. Mas é inegável que o governo passou a participar da dinâmica competitiva do setor de telecomunicações muito além do que vinha fazendo nos últimos 20 anos desde a privatização. Daí a inédita reação do mercado de confrontar o governo na Justiça, que se soma a uma grande frustração com a agenda regulatória e com a dificuldade de ver mudanças estruturais acontecendo no Congresso (temas que serão analisados futuramente).

Ainda não se sabe se este movimento do governo de "empoderar" a Telebras será benéfico aos usuários e ao interesse público. A estatal ganhou um protagonismo que nem mesmo quando foi recriada ela teve na execução de políticas públicas. Se as promessas e expectativas que estão sendo colocadas sobre ela forem cumpridas, estará bem encaminhado o problema de acesso universal à banda larga, as escolas estarão melhor conectadas do que nunca e a saúde brasileira dará um passo importante em direção à digitalização. Tudo isso com mais competição no mercado, o que é sempre desejável, e com o investimento relativamente "baixo" de um ou dois SGDCs. Na teoria, pode dar certo. Mas, e se não der certo? Não existe risco zero. Sempre alguém vai pagar a conta.

Fonte: Teletime News de 27 de abril de 2018, por Samuel Possebon.