Um estudo realizado pela Accenture sobre as concessões de telefonia fixa no Brasil traz a estimativa de que o governo poderá ter que indenizar as atuais concessionárias de telefonia fixa em R$ 22 bilhões em 2025 caso o modelo atual da concessão seja mantido. Este seria o valor dos bens reversíveis não-amortizados, segundo a consultoria.
Para a Accenture, o PLC 79/2016, que cria um novo modelo de telecom, permitirá sustentabilidade às operadoras na prestação do STFC, com alocação de investimentos em banda larga, ampliando a cobertura e trazendo segurança jurídica, inclusive para o Estado, que deixaria de ter o risco de assumir o ônus de indenizar as operadoras a partir de 2025.
Esta semana, há a expectativa de votação do parecer da senadora Daniella Ribeiro (PP/PB) sobre as emendas apresentadas no final de 2018 ao PLC 79/2016 na Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Inovação do Senado (CCT). Trata-se do projeto que, entre outras medidas, acaba com as concessões de telefonia fixa, indicando a aplicação dos eventuais saldos da conversão em projetos de banda larga. O parecer é pela rejeição das emendas de mérito, com apenas uma emenda de redação. Se aprovado, o projeto vai a Plenário e, não havendo alterações, segue para sanção presidencial.
A Accenture estima que deste valor total de indenização pelos bens reversíveis não-amortizados, R$ 8,8 bilhões seriam referentes a bens da Telefônica, R$ 8,6 bilhões iriam para a Oi e R$ 4,1 bilhões seriam a parcela de bens indenizáveis da Claro Brasil. Outros R$ 300 milhões seriam referentes aos valores da Algar e Sercomtel, segundo o estudo a que este noticiário teve acesso. O estudo ainda aponta que a União, a partir de 2025, teria que prestar o serviço "de um concessão deficitária".
Risco ao erário
É a primeira vez que um estudo aponta numericamente a possibilidade de prejuízo para a União na questão da indenização dos bens. Fontes da Anatel ouvidas por este noticiário dizem não ter analisado o estudo, mas afirmam que as estimativas da agência são bastante diferentes. Segundo estas fontes da Anatel, seria preciso entender as premissas da conta, pois hoje praticamente todos os bens reversíveis são considerados amortizados pela agência e não estão sendo autorizados novos investimentos que possam gerar saldos negativos para a União até 2025.
Na conta da agência, o investimento (Capex) em manutenção da rede fixa do STFC hoje gira em torno de R$ 1 bilhão a R$ 2 bilhões somando todas as concessionárias. Mesmo que sejam feitos novos investimentos até 2025 e que nada disso seja amortizado, o que é improvável, diz uma fonte, este valor não passaria de R$ 10 bilhões. "A não ser que a conta (da Accenture) inclua outras premissas para a valoração de imóveis, dutos e outros ativos reversíveis", aponta a fonte da Anatel.
A Anatel, durante a tramitação do PLC 79, chegou a apresentar para o Senado uma análise em que apontava para a possibilidade de que a União, uma vez que fosse obrigada a manter a operação dos serviços de telefonia fixa a partir de 2025, tenha que prever um custo operacional (Opex) de R$ 43 bilhões ao ano, número estimado com base nos dados que o órgão dispõe no modelo de custos atual, que segrega os gastos específicos por serviço. Mas a agência não deu detalhes dos cálculos. De qualquer forma, a Anatel não apresentou publicamente nenhuma conta em relação ao eventual saldo de valores não amortizados dos bens reversíveis, nem estimativas de valor dos bens.
Insustentável
O estudo da Accenture aponta ainda que a concessão, hoje, não é mais sustentável, e por isso defende a revisão do modelo, o que permitiria "investimentos alinhados a com demandas do mercado" e "feitos pelas empresas na medida em que evoluem seu modelo de negócio, sem as amarras do arcabouço da concessão focado em telefonia fixa". A Accenture é a consultoria contratada pelas concessionárias para analisar com parâmetros comuns às quatro concessionárias a sustentabilidade das concessões, tema que tem sido foco de intenso debate dentro da agência.
O estudo aponta ainda outros elementos que justificariam a revisão do modelo. Um deles, diz a Accenture, é a possibilidade de substituição plena dos serviços fixos pelos móveis, que já atendem a 100% dos municípios, sendo 68% em "alta performance".
A Accenture traz dados de investimentos e faturamento do setor de telecomunicações e aponta que desde 2013 a receita de serviços (nominal bruta) do setor está estagnada na casa dos R$ 230-240 bilhões, mas a receita com STFC, que em 2014 era de 17%, caiu para 12% em 2018. Como comparação, em 2010 a receita do STFC representava 29% das receitas das operadoras. Desde 2016, indica o estudo da consultoria, as receitas com banda larga já representam mais que as receitas com telefonia fixa. Os serviços móveis representam hoje cerca de 43% das receitas brutas, e a TV paga representa cerca de 12%, no modelo da Accenture.
Do ponto de vista dos investimento, os serviços fixos demandam mais esforço das operadoras do que os móveis. Segundo a Accenture, 59% dos cerca de R$ 30 bilhões anuais em investimentos hoje são em banda larga fixa, telefonia fixa ou TV paga.
Para a Accenture, seria possível hoje fazer a massificação da banda larga nas regiões Norte e Nordeste, onde a penetração dos serviços ainda está na casa dos 22%, contra uma média de 40% no Brasil. Prova disso, aponta a Accenture, é o crescimento das pequenas operadoras nestas regiões. Nas cidades com menos de 100 mil habitantes destas duas regiões, a penetração está na casa dos 10%, contra 24% no restante do Brasil.
Fonte: Teletime News de 9 de setembro de 2019, por Samuel Possebon.
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