O dilema dos operadores de TV por assinatura diante do avanço dos modelos de distribuição de conteúdos pela Internet (OTTs) não é apenas aderir à nova realidade, mas o impacto que esses novos modelos terão no comportamento do assinante. E um dos aspectos apontados durante os debates da IBC 2015 (que acontece esta semana, em Amsterdã) é que haverá uma forte pressão sobre o modelo de empacotamento das operações de TV paga tradicionais.
O diretor da empresa de pesquisa IHS, Tom Morrod, lembra que em essência a disputa entre OTTs e operadores de TV paga é pelo quanto o usuário está disposto a pagar por conteúdo. "Hoje Netflix e Amazon gastam em conteúdo quase a mesma coisa que grandes programadoras como a Discovery. É um conteúdo com a mesma qualidade, só que desempacotado. É claro que haverá uma pressão sobre o operador", diz ele. "Muitos operadores de pay TV estão fazendo a mesma coisa: desempacotando e vendendo OTT. E além das operadoras, os próprios programadores estão cortando o intermediário. A questão é: são apenas experimentos ou é uma mudança inevitável?", pergunta o analista.
Para ele, a necessidade de desenvolvimento de ferramentas de personalização de conteúdos, análise de dados e publicidade programática para manter a TV competitiva com os modelos pela Internet é que faz com que a mudança seja definitiva. "Acho que as coisas não vão mudar tão dramaticamente, mas em dez anos teremos uma mudança significativa na forma como o dinheiro flui, certamente". Arnd Benninghoff, CEO da MTGx (uma provedora de conteúdos OTT sueca), diz que em alguns países escandinavos a queda na audiência da TV tradicional por parte do público com menos de 35 anos já é de mais de 8% ao ano. As redes de conteúdo para plataformas como YouTube (MCN, ou Multichannel Content Networks) já são mais relevantes do que muitos canais pagos tradicionais, e o mercado publicitário tem preferido anunciar diretamente para esse público do que nos canais pagos.
Na visão de Andrew Ferrone, VP de TV paga da Roku (fabricante de set-tops conectados e agregadora de conteúdos), o novo modelo OTT elimina o custo de se ampliar a quantidade de conteúdos. "Não é preciso satélite, nem mais espectro nem mais banda, basta armazenar o conteúdo e deixá-lo disponível", diz ele. "Um usuário médio do Roku Box assiste a 50 horas por mês ou mais de TV não-linear. Isso significa que todo o mercado de entretenimento e consumo de vídeo está crescendo, e isso é positivo".
Gary Woolf, diretor da all3media, uma produtora de conteúdos da Discovery e da Liberty, ressalta a questão dos modelos de remuneração dos conteúdos. "Todo o mundo quer conteúdo de alta qualidade e é isso o que precisamos fornecer, mas o modelo de remuneração está ameaçado e alguém precisa pagar essa conta", diz ele, lembrando que, mesmo no modelo tradicional, com as necessidades de corte de custos, as operadoras pagam às programadoras taxas de licenciamento cada vez menores e, da mesma forma, as programadoras pagam pouco aos produtores.
Fonte: Teletime News de 11 de setembro de 2015, por Samuel Possebon.
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