Depois de dez dias de discussões, a Assembleia Mundial de Padronização em Telecomunicações (WTSA-16) na Tunísia chegou ao fim sem aprovar a implantação da arquitetura de endereçamento de "objetos digitais" (DOA). A polêmica proposta teve como principais defensores a Rússia, países árabes e a União Africana de Telecomunicações (ATU, na sigla em inglês), além da delegação brasileira, chefiada por membros da Anatel. O assunto acabou aparecendo apenas no rascunho de uma nova resolução que cria o grupo de estudo 11 na UIT-T — ainda assim, de forma específica, para combate a dispositivos falsificados, incluindo na Internet das Coisas, mas não se limitando a isso.
De acordo com artigo do pesquisador do Centro de Tecnologia do instituto da Georgia (Estados Unidos), Anthony Rutkowski, a proposta da DOA, também chamada de "Handle System", teria profundas conexões com interesses da ATU, cujos membros fariam parte da Fundação DONA, detendo direitos de venda de produtos e serviços. Essa entidade, com base na Suíça, é quem estaria apresentando todas as especificações, implantação de software, produtos e serviços. O assunto é caro à Rússia: o governo russo teria apresentado a mesma proposta pelos últimos oito anos a diferentes secretariados e departamentos da UIT. Ainda segundo Rutkowski, a proposta da DOA foi discutida 150 vezes nas dez sessões da WTSA.
A Anatel defendeu a DOA, considerando-a importante para aplicações de máquina-a-máquina (M2M) e IoT em geral. A delegação brasileira na WTSA-16 afirmou que o padrão deveria ser adotado "como uma das soluções técnicas a serem implementadas, mas mantendo a diversidade de opções e neutralidade tecnológica dos diversos países". Atualmente, Rutkowski afirma haver três itens de trabalho relacionados à DOA em dois grupos de estudo da UIT-T sobre Internet das Coisas.
A proposta levantou preocupações a respeito de possíveis mecanismos de coleta de informações por meio da criação de um banco de dados com cadastros e registros de equipamentos que poderiam também ser vinculados a pessoas. Outra crítica era que a DOA substituiria padrões já existentes e amplamente adotados no mercado.
Ao todo, a assembleia na Tunísia reuniu mais de mil delegados de 92 países para deliberar sobre padronizações de TICs. Foram 15 novas resoluções e 31 revisões. Na ocasião, foram aprovados cinco padrões da UIT sobre assuntos como roaming de telefonia móvel e pontos de troca de tráfego (PTTs). O documento inteiro, com 270 páginas, pode ser acessado clicando aqui.
Fonte: Teletime News de 7 de novembro de 2016, por Bruno do Amaral.
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