À medida que a tecnologia migra dos computadores pessoais para smartphones e tablets, a Apple Inc. está ganhando terreno em uma nova e lucrativa base de clientes: as empresas.
A popularidade do iPhone e do iPad entre os funcionários está levando os gerentes de tecnologia de empresas a reescrever suas políticas e mudar padrões de compra tradicionais. O iPhone substituiu o BlackBerry como o celular preferido e o iPad vem assumindo tarefas antes reservadas aos computadores.
A Apple ficou com cerca de 8% dos gastos de empresas e governos de todo o mundo com a compra de computadores e tablets em 2012, em comparação com 1% em 2009, informa a firma de pesquisa de mercado Forrester Research. Em 2015, a Forrester prevê que esse percentual vai subir para 11%. Os números excluem o iPhone, que pode ser o produto da Apple mais comprado por clientes corporativos. Muitas vezes, ele é a porta de entrada da gigante americana de tecnologia em uma empresa.
A LG&E and KU Energy LLC, maior concessionária de energia elétrica do Estado de Kentucky, ilustra como a Apple ganha espaço dentro de empresas e, em seguida, expande seu alcance.
A concessionária, uma subsidiária da PPL Corp., aprovou a compra de iPhones para seus funcionários em 2010. Depois disso, ela introduziu o uso de iPads e construiu aplicativos, como um para ajudar seus funcionários em helicópteros a fazer o levantamento de quase 9.000 quilômetros de linhas de energia de alta tensão. Usando o sistema de posicionamento global de um iPad, os funcionários podem identificar o ponto exato de um problema e selecionar opções de um menu com falhas comuns, como um poste danificado ou uma árvore que cresceu demais sobre a fiação.
"Durante anos, procuramos alguma maneira de automatizar isso e nos ouvimos todo tipo de contos de fadas, mas nunca conseguíamos achar nada", diz Robby Trimble, gerente de serviços de linhas de transmissão da LG&E and KU.
Agora, os engenheiros da companhia que gerenciam as usinas de geração usam iPads para registrar a quantidade de eletricidade produzida. Gerentes de armazéns usam o tablet para ler códigos de barras e monitorar equipamentos e materiais da concessionária.
"As pessoas começam com o iPhone. É a ponta da lança", diz Chip Pearson, diretor-presidente da JAMF Software LLC, firma especializada em ajudar empresas a adotar produtos da Apple. A JAMF informa que seu software gerencia hoje cinco vezes mais telefones, tablets e computadores da Apple que há três anos.
Em grandes multinacionais, como a fabricante americana de equipamentos de rede Cisco Systems Inc., os produtos da Apple já viraram padrão. Em 2009, a Cisco adotou a política "use seu próprio aparelho", pela qual os funcionários podiam comprar seus próprios telefones e tablets e a Cisco pagaria a conta do serviço de telefonia e dados em determinados casos. Agora, os iPhones e iPads representam quase 75% dos mais de 70.000 dispositivos móveis que recebem suporte do departamento de tecnologia da Cisco.
Os laptops da Apple se espalharam rapidamente pela Cisco depois que a empresa deu aos empregados a opção de trocar seus notebooks que rodavam o Windows, o sistema operacional da Microsoft. Hoje, 25% dos cerca de 35.000 laptops fornecidos pela Cisco são MacBooks da Apple.
Os Macs custam mais que os PCs, o que costumava ser um obstáculo para a Apple. Mas depois de levar em conta fatores como manutenção e suporte, Sheila Jordan, diretora sênior da Cisco, diz que o custo acaba sendo o mesmo ao longo da vida da máquina.
Durante anos, os dispositivos da Apple não eram considerados muito práticos dentro das empresas, porque muitos aplicativos de negócios eram desenvolvidos apenas para o Windows. A disseminação de software com base na internet ajudou a superar essas limitações. A Cisco fornece software que permite aos usuários de Mac rodar programas criados para o Windows.
A ascensão dos aplicativos no ambiente de trabalho também trabalha em favor da Apple. A Cisco abriu recentemente a sua própria loja de apps para os funcionários, com cerca de 60 programas que incluem mensagens instantâneas, registro de dias de férias e conferências pela internet através de um telefone ou de um tablet.
Fabricantes tradicionais de software de negócios também estão fazendo versões de seus produtos para celulares e tablets. A Salesforce.com Inc., que oferece software para gerenciar relacionamentos com clientes pela internet, informa que a maioria de seus aplicativos tem sido adquirida para dispositivos da Apple.
A rival SAP AG afirma que seus aplicativos permitem que os usuários do iPhone e iPad realizem a maioria das tarefas disponíveis para aplicativos de computadores. A empresa produz programas que vão desde a gestão de relacionamento com clientes, software muito usado pelo pessoal de vendas, a aplicativos que permitem a gerentes aprovar despesas ou dias de férias.
Michael Golz, diretor de informática da SAP Americas, diz que a empresa cada vez mais desenvolve seus produtos pensando primeiro nas plataformas móveis. A SAP também é uma grande usuária dos produtos da Apple, tendo atualmente cerca de 27.000 iPhones e 25.000 iPads em uso por seus funcionários no mundo todo.
A Apple não costumava fazer muito esforço para vender para firmas. Mas segundo o diretor-presidente, Tim Cook, ela está agindo discretamente para atrair os gerentes de tecnologia das empresas, tornando mais fácil de vincular iPhones e iPads a sistemas de e-mail corporativos e proteger melhor seus dados. Um exemplo recente é a inclusão no novo sistema operacional Mac Mavericks de uma tecnologia mais robusta de segurança e criptografia de dados desenvolvida para clientes corporativos.
Quando aplicativos de negócios são oferecidos em telefones ou tablets, eles são esmagadoramente para dispositivos da Apple. Mais de 90% de todos os aplicativos de negócios implantados no terceiro trimestre usaram o sistema operacional móvel iOS da Apple, segundo a Good Technology, que fornece software de segurança móvel e monitora o uso de aparelhos móveis por mais de 5.000 clientes corporativos.
Mas a concorrência está ganhando força. Analistas e desenvolvedores dizem que o sistema operacional Android, do Google, tem feito algumas incursões no setor, em parte porque a ampla gama de fabricantes que criam dispositivos para o Android permite mais opções de preços e especificações, como tamanho da tela ou velocidade do processador.
O varejo é outro nicho importante para os dispositivos da Apple. A rede de lojas de departamento Nordstrom Inc. colocou em uso mais de 24.000 iPads e iPods Touch em suas 261 lojas, substituindo algumas máquinas registradoras. No grupo varejista Urban Outfitters Inc., o pessoal de vendas usa iPods Touch adaptados para verificar o histórico de clientes, lidar com devoluções e produtos fora de estoque que precisam ser enviados à casa dos clientes. A Urban Outfitters implantou mais de 1.000 unidades do iPod Touch em suas lojas nos Estados Unidos, incluindo a rede de lojas de roupas e acessórios Anthropologie.
Por Daisuke Wakabayashi - The Wall Street Journal
Publicado pelo Jornal Valor Econômico de 12 de janeiro de 2014 - Pág. B9
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