A distribuição de conteúdos por streaming tem se mostrado uma grande arma para empresas de telecomunicações e ISPs na comercialização de serviços móveis e banda larga, que se tornam cada vez mais agregadoras de conteúdos OTT. Mas essa figura do agregador ainda é nebulosa – não existe, atualmente, um agente que funcione de forma efetiva nessa missão no universo OTT. Nesse contexto, surgem também novos personagens, para além das operadoras, que ainda sofrem com algumas barreiras. Esse foi um dos temas abordados no Brasil Streaming, organizado pelas publicações TELETIME e TELAVIVA, que aconteceu em São Paulo nesta segunda, 22.
Empresas já consolidadas há anos no mercado, como a Claro, buscam se transformar de acordo com as mudanças de comportamento de consumo e da indústria. "Na parte móvel, nossos esforços hoje são para trazer conectividade junto de conteúdo, passando por demais serviços digitais, com uma oferta de maior valor percebido. É conteúdo de qualidade com curadoria para o consumidor e de forma agregada", diz Márcio Carvalho, diretor de marketing da Claro Brasil. "Não foi só o paradigma da TV que mudou, mas também o do conteúdo. Temos que levar esse conteúdo para todas as telas, em todos os lugares. Por isso o streaming e essa plataforma de distribuição online têm importância fundamental", completa.
A questão é: alguém vai ter que fazer essa agregação de conteúdos – essa necessidade não é de hoje. A oferta de OTTs é gigante e quem quiser assistir a tudo ainda tem que pagar por cada um deles. Serviços subsidiados pelo próprio serviço de telecomunicação que o cliente está contratando seriam um caminho? "A Apple TV, por exemplo, é excelente, mas é cara. Se a gente pegar um set-top box de TV por assinatura, mais os impostos, o custo para vender ao consumidor seria muito alto. Então é óbvio que o modelo de subscription que as TVs pagas levam para o mercado, transformando numa mensalidade e abatendo o custo da aquisição da tecnologia, ajuda muito. O grande desafio é criar essas novas plataformas de uma forma complementar, criando valor adicional ao que já está aí. Ainda mais no Brasil, que já tem gap de acesso e inclusão", afirma Carvalho. "Hoje há mais casas com banda larga do que TV paga no Brasil. Então a questão da escala também importa, é difícil dizer o que compensa mais. E hoje não agregamos só serviços de vídeo, então ajuda na equação também. Não é simples para as operadoras acostumadas ao modelo tradicional. É uma transformação digital baseada em software, mas que viabiliza para o consumidor uma experiência muito mais atrativa. Cabe a gente fazê-la acontecer", conclui.
Alex Jucius, diretor geral da NeoTV, que hoje congrega cerca de 130 empresas, declara: "O mercado mais relevante pra gente hoje é o de banda larga. São 3 milhões de assinantes de banda larga fixa contra 350 mil de TV. Ou seja: a alternativa de distribuição mais simples é mesmo embarcar o conteúdo na banda larga. Fazemos a integração e notamos essa equação: o mercado com dificuldade e barreiras na distribuição de conteúdo versus a evolução tecnológica e o desejo do consumidor de ter outros conteúdos que não sejam apenas a TV. Por isso abordamos o mercado com esses serviços". Para ele, grande parte das operadoras já aceitou não ser o único canal de distribuição para o assinante final, uma vez que as próprias empresas provedoras de conteúdo podem fazer isso também. "Então a partir do momento que se tem um provedor, faz todo sentido que ele venha agregar essa solução. Grande parte dos operadores têm essa intenção. A competição não é apenas compor com banda larga. O empacotamento dos conteúdos vem por meio de diversos combos, não só dela", opina.
Para o especialista Omarson Costa, provedores locais não devem pensar pequeno: "Eles precisam considerar distribuição local. É difícil ficar só no doméstico, a escala é pequena. Na França, por exemplo, o Canal Plus não faz distribuição no país, e sim para quem fala francês, é global". Já em relação a quem seria o tal agregador, Costa pontua: "Operadoras têm maior papel do que stickers, que fazem o básico e não chegam a cidades pequenas. Elas são relevantes para além da banda larga. O que tem que haver é uma maior integração de metadados para que o consumidor possa ver maior valor de agregação e uma experiência integrada. Tem muitos players, como a Netflix, que não fazem essa integração.".
Alexandre Britto, presidente da Abott's, apresenta o ponto de vista do outro lado do ecossistema: "Existem dois mundos – o das operadoras, com poder de negociação e acesso, e o dos ISPs, com outra realidade de poder de barganha. É muito mais fácil para as grandes operadoras tocarem essa conversa com os grandes provedores. O ISPs precisam de alguém que congregue todos esses conteúdos e de uma plataforma única – ou não, já que ela pode ser marca branca. Com isso, ele consegue chegar ao cliente.", ressalta. "Sugiro olhar a cadeia do ponto de vista do usuário final. A experiência hoje ainda é péssima, não há opção de consumo único. Não sei quem será esse agregador, mas o consumidor precisa disso.", acredita, lembrando ainda dos problemas tributários e de infra-estrutura envolvidos. A Claro, por exemplo, tem estrutura para distribuição de conteúdos OTTs sem perder qualidade. Mas é exceção.
Alex Jucius, da NeoTV, conclui com um panorama geral ao ser questionado se há, por parte das ISPs, um interesse em trabalhar na descentralização do tráfego: "Hoje, existe espaço para empresas de tecnologia atuarem nesse mercado fazendo CDNs marca branca para chegarem em todo o Brasil. Algumas empresas, como a Netflix, têm capacidade de colocar CDNs nos ISPs – a plataforma investiu em prover a estrutura ela mesma, foi parte do seu curso de existência – enquanto outras não podem arcar com o investimento. Essa é uma vertente. A outra está relacionada às políticas públicas, de incentivo para empresas de conteúdo nacional, para que eventualmente exista uma CDN marca branca só pra isso, reduzindo essa barreira de entrada que é um dos problemas atuais".
Entre esses novos entrantes nesse ambiente e agregação está a WatchTV, agregadora de conteúdo OTT que não trabalha com venda direta para consumidores, e sim direto por provedores – usando o marketing de seus parceiros – com vantagens como login e billing únicos e a possibilidade de agregação de outros serviços além do conteúdo em vídeo, como games e conteúdos editoriais. Funcionando em devices como web, smarTVs (LG e Samsung), iOS, Android, Chromecast e STBs, o projeto é novo: começou em 2016 e foi lançado oficialmente em 2018. "Empresas menores não conseguiam participar desse novo mercado, então fomos atrás do que seria necessário para isso acontecer. O empacotamento foi a principal demanda. Está tudo em um mesmo ambiente.", explica Mauricio Almeida, cofundador da marca.
Fonte: Teletime News de 23 de abril de 2019, por Marina Toledo.
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