quarta-feira, 18 de maio de 2016

Concentração e competição com OTTs desafiam TV paga nos EUA

Uma mudança de marcha. Um momento de transformação. Uma ruptura que gera o caos. Uma incerteza que pode abrir oportunidades. Estas são algumas das expressões correntes nos discursos, pronunciamentos e material promocional da INTX, principal (ainda) evento de TV por assinatura dos EUA e um dos mais importantes do mundo, que acontece em Boston esta semana.
Há muito tempo a indústria de TV paga não se via em um ponto de encruzilhada, com mais dúvidas sobre os caminhos a seguir do que mensagens claras. O mercado ainda é gigantesco (são 53 milhões de assinantes de vídeo), bilhões de dólares são investidos anualmente, mas a incerteza em relação ao futuro chegou a um ponto em que o maior evento do setor organizado pela associação de operadores de cabo dos EUA, a NCTA, este ano trouxe, pela primeira vez, representantes da AT&T e Verizon para tentar entender os rumos que o mercado de distribuição de conteúdos está tomando.
O sempre otimista presidente da associação e ex-presidente da FCC, Michael Powell, adotou um tom solene e de poucos amigos em seu pronunciamento de abertura. "Há muitos fluxos atuando e mudando os contornos desses tempos vertiginosos", disse Powell. O ex-presidente da FCC reconheceu que o mercado passa por um período de concentração. AT&T comprando a DirecTV, Charter comprando a Time Warner Cable, Altice (francesa) comprando a Cablevision… Dos 54 milhões de assinantes de TV a cabo nos EUA, 45 milhões estão nas mãos de quatro operadoras (Comcast, Charter/TWC, Cox e Cablevision). Segundo ele, esta concentração é motivada por uma nova dinâmica competitiva. "Nós acreditamos que esse novo perfil do mercado dará o dinamismo e a energia necessária para os mercados de TV e Internet".
A participação das empresas de TV a cabo no mercado de vídeo por assinatura dos EUA é a menor da história. Hoje, 54% dos assinantes de TV paga (linear) estão no cabo, 33% no satélite e 13% nas plataformas das teles. Possivelmente o cabo deixará de ser a principal plataforma de distribuição de pay-tv ainda este ano.
Mas isso é contando apenas o mercado de vídeo linear. Se for incluído o mercado não-linear, a maior empresa em número de clientes é o Netflix, com 47 milhões. O serviço Hulu tem 12 milhões de clientes. E é isso que a NCTA tem procurado destacar. A competição não é mais com teles, mas com as empresas de Internet. "Existem criaturas novas migrando para o nosso território. Criaturas com muitos recursos e extremamente criativas que mordem rompendo modelos tradicionais", disse Powell, em referência óbvia a empresas de Internet.
Não por acaso as quatro empresas de Internet mais valiosas do mundo são Google, Apple, Facebook e Amazon, e juntas elas valem, em bolsa, cerca de US$ 1,5 trilhões, mais do que o dobro do que valem, juntas, AT&T, Verizon, Comcast, Disney, Fox, Time Warner e Time Warner Cable. "Quem quiser competir precisa elevar sua estatura. Eu acredito que se formos ágeis e corajosos, não só vamos sobreviver, mas vamos vencer", disse Powell em um discurso feito claramente para elevar o moral da tropa.
Powell lembrou que do ponto de vista de conteúdo, nunca se produziu tanto. No ano passado, mais de 400 roteiros foram transformados em séries, e ironizou: "Não por acaso, empresas que até outro dia vendiam livros hoje estão ganhando Emmys", disse, em referência a conteúdos produzidos originalmente para a Amazon.
Para Powell, há mercado para todos. "Acho que existe mais a ganhar na união de esforços do que na divisão. Buscamos parceiros, não adversários. Vemos o benefício de uma rede global que leve conteúdos de qualidade a todo o mundo", disse.

Fonte: Teletime News de 16 de maio de 2016, por Samuel Possebon.

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