Vencedora da faixa nacional de 700 MHz no leilão do 5G, a Winity (empresa da gestora de investimentos Pátria) deve ser a primeira operadora de atacado a se constituir de forma clara no mercado móvel do País, e acredita estar inaugurando o modelo de negócio no momento ideal para a indústria.
Em entrevista ao TELETIME, o CEO da empresa, Sergio Bekeierman, destacou a diversidade de modelos de compartilhamentos possíveis após o leilão, as oportunidades no 4G e no 5G e a expectativa de contar com clientes tanto entre provedores regionais quanto entre as operadoras consolidadas.
A Winity ofertou R$ 1,427 bilhão pela faixa nacional de 700 MHz, dos quais R$ 1,19 bilhão serão pagos em dinheiro e o restante, em obrigações que incluem a cobertura de quase 36 mil km de rodovias federais. A operadora pretende construir 5 mil torres até 2029, com investimentos estimados em R$ 2 bilhões ao longo do processo.
TELETIME – O setor de telecom brasileiro já tem consolidada a figura das empresas de torres e também permite ofertas de espectro no atacado, mas até agora não contava com um player que oferecesse ambos. O modelo precisa se provar no País?
Sergio Bekeierman – Nós trazemos um novo modelo de operação, pois a Winity vai ser a primeira operadora de atacado a se constituir de forma clara no País. Internacionalmente, há referências nos Estados Unidos, também existe uma operação no México. Já por aqui, nossa decisão pelo modelo é um pouco em função da visão de oportunidades na indústria. A Anatel foi muito feliz em criar o edital com várias inovações, como a viabilidade de ofertar o serviço no atacado, as próprias regras, o volume grande [de espectro licitado] e as entrantes não necessariamente competindo com as operadoras estabelecidas. Reflexo disso é a quantidade de entrantes. Assim, várias estratégias podem ser implementadas ao mesmo tempo, estabelecendo outras relações.
A demanda por infraestrutura no setor é evidente. Mesmo com R$ 30/35 bilhões de capex por ano, até então somos pobres em modelos de negociação. Existe a infraestrutura passiva, como torres, que já é compartilhada, mas também é preciso rádios, antenas, estações e do espectro. Se a infraestrutura passiva representa de 30% a 40% do capex de uma operadora, para os outros 70% ou 60%, não há empresas compartilhando. A nossa oportunidade é fazer com que 100% da infraestrutura possa ser compartilhada – seja passiva, eletrônica, espectro e, eventualmente, redes de transporte.
O espectro de 700 MHz tem sido largamente utilizado para o 4G, e os próprios compromissos da faixa que vocês compraram são associados à tecnologia. Como e quando o 5G vai entrar na estratégia?
Nós somos agnósticos do ponto de vista da tecnologia. Investimos em infraestrutura, e estamos em um setor onde ciclos são impulsionadores de novos deployments. O 700 MHz é especial por todas suas características e vem sendo usado como principal faixa do 4G. Existe essa correlação direta, mas ele ainda vai ser utilizado por muito tempo: quando o 5G tiver uma curva de adoção suficiente, vai fazer sentido um refarming, pois as características o tornam muito especial.
No edital, nossas obrigações falam de pelo menos 4G, mas não necessariamente 4G. Esse é um standard mínimo, e a discussão interna nossa é sobre como vai ser. É uma tecnologia que será bastante importante por um bom tempo, mas o uso da frequência vai depender da maturidade do mercado. Não vamos servir o cliente final, nossos clientes que vão, sejam operadoras nacionais ou regionais. Esses clientes vão tomar decisões em conjunto sobre que tipo de tecnologia precisa ser ofertada.
Grande parte dos trechos de rodovias federais que vocês precisam cobrir ficam no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Os vencedores destes respectivos lotes regionais são clientes naturais?
Acredito que sim. Será um momento de contratação de muitas obrigações na indústria. Logo, muitas sinergias podem ser obtidas. No modelo de operadora de atacado, vamos buscar servir seja operadoras nacionais ou regionais. Como um veículo de infraestrutura, queremos alocar nosso dinheiro onde faça sentido e maximizar o uso dessa infraestrutura.
A empresa confirma se há algum acordo de RAN Sharing e uso de rede já firmado com a TIM?
Não comentamos sobre detalhes de relações comerciais, mas estamos comunicando ao mercado que não temos nenhum acordo fechado nem preconceito com nenhum cliente. Queremos construir a rede e compartilhar com o maior número possível de empresas. Vamos trabalhar intensamente no aspecto comercial; temos que atender os compromissos e vamos buscar ativamente clientes para que o ativo possa ser comercializado. Quando acordos de fato estiverem maduros e forem formalizados, vamos torná-los públicos e explicar com maior clareza como funcionará nossa infraestrutura.
Hoje qual o tamanho da operação da Winity?
A empresa foi criada em 2020, após ser aprovada ao longo da pandemia. Montamos um time com cerca de 40 executivos, relativamente robusto e com pessoas muito experientes. Do ponto de vista de projeto, temos da ordem de 500 sites entregues ou em desenvolvimento.
O Pátria atua no segmento de investimentos alternativos há mais de 30 anos, com mandato de criar estratégias replicáveis e resilientes. O grupo de infraestrutura tem 15 anos e mais de 20 empresas. Nos especializamos em energia, seja renovável, transmissão, geração a gás; temos uma vertical de logística e transportes, com operação de hidrovias (Hidrovias do Brasil) e somos um grande operador de rodovias, com três concessões. Já infraestrutura de dados nós começamos em 2012. Tivemos no fim de 2019 o desinvestimento da Highline [que tem Bekeierman como um dos fundadores] e atuávamos na parte de fibra a partir da Vogel, que vendemos recentemente para a Algar. Também temos a Odata, uma das maiores empresas de data centers da região, com presença no Brasil, Colômbia, Chile e México e a Atis, uma operadora de torres na Argentina.
A oferta da Winity pode ser conjugada com a de outros ativos do Pátria, como os data centers?
As empresas atuam de forma independente, mas a gente tenta sim gerar sinergias na originação de negócios, no relacionamento. Vamos tentar fazer isso, mas mantendo as operações de forma independente. O que o mercado verá na Winity é uma plataforma de infraestrutura wireless.
Fonte: Teletime News de 12 de novembro de 2021, por Henrique Julião.
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