Dois acrônimos antes desconhecidos por muitas pessoas, mas que agora fazem parte do vocabulário de todo executivo, LGPD e ESG, têm muito mais em comum do que se pode imaginar. Engana-se quem pensa que esses temas ganharam destaques no mundo dos negócios apenas pela preocupação trazida pelo mercado sobre como, quando e porquê se adequar a esses fatores.
Ambas as siglas apontam desafios das empresas, principalmente, sobre o modo ético que elas devem seguir daqui para frente. Vale ressaltar que a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) estabelece princípios que devem guiar o tratamento de dados pessoais, como a transparência e a finalidade determinada e já entrou em vigor no ano passado. Já ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança) estabelece os pilares e metas não financeiras de uma empresa. Nesse sentido, esses fatores também contemplam a governança trazida pela LGPD, já que as empresas deverão implementar essas regras nos próximos anos. Cabe lembrar que a não aderência às práticas do ESG, com um propósito e engajamento genuínos, deverão impactar sim os balanços das organizações.
Há uma grande diferença entre os parâmetros e princípios que guiam esses dois grandes desafios. Um deles é a questão da obrigatoriedade de cumprimento já que a não aplicação da LGPD é passível de sanções milionárias (eventual infração à legislação poderá ser multada em até 2% do valor de faturamento do grupo econômico em questão). Já os pilares de ESG não constituem (ainda) norma regulatória mas, assim como a LGPD, também podem causar dano de reputação muito maior que eventual sanção administrativa. Nesse sentido, não apenas o dano reputacional pode ser tão grande, em ambos os casos, que tanto a LGPD quanto o ESG estão em compliance com os temas como marketing positivo e benefício de negócio, ou seja, podem ser considerados critérios relevantes para escolha de uma marca já que clientes, fornecedores e investidores confiam mais e preferem se relacionar com empresas que levem estes temas a sério.
Quando trata-se do ESG, o tema foi endossado por grandes investidoras que anunciaram, publicamente, que a sustentabilidade seria o novo padrão de investimento. Ainda, uma pesquisa recente da KPMG dos Estados Unidos demonstrou que 68% dos consumidores entrevistados declararam não confiar em empresas que não promovem o uso ético de dados, fator que também embasa qualquer um dos pilares de ESG.
A palavra grega ethos remete, inclusive, aos costumes que procuravam justificar a ausência de inclusão e diversidade numa companhia ou que explicavam os meios pelos quais essa empresa poderia monetizar informações privadas de clientes ou colaboradores sem que houvesse legitimidade ou transparência nesta prática. Mas os costumes mudam, passam a ser questionados pelos consumidores, órgãos reguladores e mercado e se deparam com outro pilar de ESG que é a sustentabilidade. Cabe aqui a seguinte pergunta: o quão sustentável é continuar governar pessoas ou informações sobre elas sem o respaldo da ética? O contexto atual responde que esse movimento não é sustentável.
Em suma, o ESG e a LGPD trazem acima de tudo um novo modo de as empresas se apresentarem ao mercado, o que vai ratificar, nos próximos anos, que uma perspectiva sustentável e coletiva de práticas corporativas pode ser ainda mais eficiente do que a tradicional visão do lucro imediato que não traz uma contribuição genuína e efetiva para o planeta e para a sociedade.
Fonte: Teletime News de 5 de março de 2021
* Sobre os autores – Sebastian Soares é sócio da KPMG e Isabella Becker é gerente da KPMG. As opiniões manifestadas não necessariamente representam a opinião de Teletime
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