Quando for aproveitado em sua totalidade, o 5G permitirá que o mundo finalmente entre na tão falada "revolução digital". O uso atual das tecnologias digitais é apenas um vislumbre do que ocorrerá quando a quinta geração de transmissão de dados se tornar realidade. Somente com o 5G será possível ter carros autônomos ou uma cirurgia feita à distância com o uso de robôs, para citar dois exemplos. Na verdade, o 5G é tão poderoso que, se pode dizer, que ainda não sabemos como aproveitar suas possibilidades. Nos próximos anos, novos produtos, serviços ou tecnologias serão inventados. Basta lembrar que ninguém estava esperando o 4G para popularizar o streaming e, com isso, provocar uma revolução na indústria cinematográfica.
Até agora, boa parte das discussões sobre o 5G estão focadas nas suas possibilidades de uso. Além de ser um tema fabuloso, é importante. Mas, por trás dele, há um tópico menos glamoroso, mas igualmente relevante e que não pode ser ignorado: como as provedoras do 5G vão rentabilizar os investimentos para a criação da nova rede.
Não é algo óbvio. Estima-se que a infraestrutura do 5G exigirá das operadoras investimentos que podem chegar a R$ 35 bilhões de reais até 2022 – e isso somente no Brasil. Há um complicador: as operadoras não concluíram a transição do 3G para o 4G – e ainda não recuperaram todo o investimento feito. E agora têm a tarefa de mudar tudo de novo. A indústria de telefonia e transmissão de dados é uma das que mais sofre na adaptação a novas tecnologias. Estudos mostram que o nível de CAPEX dispendido para inovações é maior do que de outros setores. Simplificando – e exagerando – é quase como se tivessem de enxugar gelo.
Por mais que o 5G possa ser usado em larga escala pelas indústrias e pelas pessoas, a demanda gigantesca não garante o retorno financeiro para as operadoras. O primeiro motivo é óbvio e já foi dito: sairá caro implantar o 5G. Recuperar o investimento demandará muito mais do que a cobrança pelo uso da rede. Se as operadoras de telecomunicações se restringirem a isso, no máximo vão evitar o prejuízo.
Esse foi o grande problema com o 4G. As operadoras se limitaram a atuar como meras fornecedoras de infraestrutura. Quem, de fato, rentabilizou, foram as empresas que usaram a rede com serviços e negócios com alto valor agregado. Por exemplo: o Youtube, o Uber e a Netflix e as plataformas OTT (over the top). O impacto provocado pelas plataformas de vídeo foi dramático para as telecoms. A popularização do streaming demandou um uso da rede que não havia sido previsto. Dois efeitos: a necessidade de ampliar ainda mais a capacidade de transmissão de dados sem que fosse possível cobrar mais por isso; e o ônus com os clientes. Quando as pessoas passaram a ter dificuldades em assistir a filmes on-line, a culpa recaiu nas operadoras. Além do prejuízo na reputação, elas tiveram de aumentar as despesas administrativas para atender às reclamações.
Para obter lucros, a solução será lançar novos produtos e serviços. Como fazer isso é uma questão ainda incerta. No mundo, há diversas iniciativas e projetos. Uma das frentes é a produção e disseminação de conteúdo. No Brasil, como na Espanha, operadoras compraram direitos de transmissão de partidas de futebol. Foi o caso de operadoras brasileiras que estão transmitindo o campeonato carioca, e a espanhola Movistar, que transmite partidas da LaLiga. Outras, como a AT&T, estão apostando na produção de filmes e séries.
Diversas operadoras estão focando na criação de redes privadas. O 5G tira a necessidade de cabeamento, permitindo a criação dessas redes. Além de mais simples, elas são muito mais poderosas do que as redes atuais.
O 5G permitirá as operadoras oferecerem soluções valiosas para empresas de diversos setores. Um exemplo: gestão de frotas de caminhões de grandes empresas. Mas, como foi dito, as grandes novidades estão para ser criadas. A vantagem para as operadoras é que, dessa vez, elas não serão pegas de surpresa como foi no caso do 4G.
Fonte: Teletime News de 21 de maio de 2021.
* Sobre o autor – Marco Antonio Galaz é sócio da everis Brasil e especialista em telecomunicações. As opiniões expressas nesse artigo não necessariamente refletem o ponto de vista de TELETIME.
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