O governo dos Estados Unidos tornou oficial: a tecnologia de rede de acesso aberta OpenRAN é agora uma arma para retomar o papel protagonista do país nas redes 5G. Em evento online dedicado ao tema nesta segunda-feira, 14, a agência reguladora Federal Communications Commission (FCC) afirmou com todas as letras que a ideia é aproveitar a experiência norte-americana no desenvolvimento em software para, em uma tacada só, reduzir a dependência de fornecedores tradicionais como Ericsson, Nokia e Samsung e promover uma investida (com incentivo governamental) contra a Huawei e a ZTE.
A senadora Jane Harman, do comitê de inteligência do parlamento dos EUA, declarou que agora não se trata de uma corrida pelo 5G mais, o que pode ser encarado como uma tentativa de mudança de narrativa estratégica do governo. Isso porquê o foco não seria mais no hardware. "No conceito de OpenRAN, a gente toma vantagem de software. E aqui no Ocidente, fazemos software muito bem", disse, reiterando que a tecnologia é "uma grande oportunidade" para os Estados Unidos.
O conselheiro da FCC, Geoffrey Starks concorda, lembrando que empresas norte-americanas eram líderes em tecnologias anteriores, como Motorola, mas que isso desapareceu com o tempo. Ele afirma que a estratégia chinesa dá "vantagem injusta" ao supostamente tornar em armas as redes de telecomunicações. "Nosso país tem sido líder em tecnologia de software. Precisamos investir e pensar nisso."
Diversidade
Mais uma vez, a estratégia do governo dos EUA parte da acusação – ainda sem provas apresentadas – de que a Huawei e a ZTE teriam instalado backdoors nos equipamentos e estariam obedecendo à lei chinesa de fornecimento de informações ao Partido Comunista Chinês. A Huawei e a ZTE sempre negaram a existência de backdoors, e apresentam laudos e auditorias especializadas como prova.
Mas agora os norte-americanos também focam no ataque às fornecedoras chinesas com o argumento da diversidade. "Muitas operadoras se preocupam com o mercado consolidado. Tenho ouvido algumas, aqui e em outros países, que a diversidade de fornecedores é útil em termos de preço e competição, evitando o problema de lock-down [dependência] e garantindo um fornecedor reserva, entre outras coisas", diz o chairman da FCC, Ajit Pai.
"Com o OpenRAN, elas podem fundamentalmente fazer disrupção com mais fornecedores. É também uma chave para a segurança em nossas redes, ao contrário de fornecedores chineses. Assim, podem ter rede de acesso aberta, interoperável", declara. Pai coloca que a OpenRAN tem fornecedores norte-americanos e de países alinhados politicamente, e que a maior adoção permitiria o avanço em pesquisa e desenvolvimento da tecnologia. No evento, estavam presentes executivos da Qualcomm, Intel e Oracle, entre outras, mas o chairman da FCC diz que o regulador não estaria endossando nenhum equipamento ou fornecedor.
Argumentos
O secretário Mike Pompeo, que tem promovido uma espécie de turnê contra a China por países europeus, declarou em mensagem gravada que a política de "redes limpas" (Clean Network) já teria sido adotada por 30 países. Em seu discurso ainda mais ideológico, chegou a mencionar uma suposta censura por parte do Partido Comunista Chinês contra os EUA. E declarou: "O mundo não quer o comunismo chinês hackeando carros autônomos e ferramentas de telemedicina. A tecnologia deve alavancar a liberdade."
Em todos os discursos do evento, havia em comum o julgamento de que o que seria melhor os cidadãos norte-americanos serviria para o resto do mundo inteiro.
Fonte: Teletime News de 14 de setembro de 2020, por Bruno do Amaral.
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