Quem vai dominar o ambiente da Internet das Coisas? Quais vai ocupar um papel preponderante nesse novo ambiente das comunicações? Essa não é uma discussão nova e está escancarada há pelo menos um ano, ganhando visibilidade durante o Mobile World Congress deste ano, em Barcelona. Já escrevemos sobre isso. A disputa de fundo é se esse será um mercado das empresas de Internet, das empresas provedoras de infraestrutura e rede, das empresas de hardware ou se surgirá algum novo elemento nessa cadeia.
O prêmio é ser relevante em um ambiente de bilhões de coisas conectadas, de carros a alimentos, passando por peças de vestuário, dispositivos domésticos, lâmpadas, serviços urbanos etc.
Dando o devido desconto ao discurso de marketing dos grandes fornecedores de tecnologia e serviços, o fato é que existe um potencial gigantesco para qualquer setor dos negócios que passe a tirar proveito do ambiente digital das comunicações, análise de dados, e existe uma perspectiva real de que isso altere radicalmente a dinâmica econômica de vários setores. Isso já está acontecendo em muitas áreas, a começar pelos serviços prestado pela Internet e que competem com os serviços tradicionais de telecomunicações.
Mas existe uma mudança de perspectiva interessante: enquanto em eventos de telecomunicações, como o MWC, o foco é em conectividade e nas tecnologias para assegurar a rede em que tudo isso acontecerá, a discussão mais relevante, que é como tirar proveito (econômico ou social) desta tecnologia, parece estar sendo perdida.
Isso ficou claro durante o evento Cisco Live, promovido pela Cisco esta semana em Las Vegas e que congrega nada menos do que 28 mil desenvolvedores e parceiros da Cisco que prestam serviços sobretudo ao mercado empresarial. A discussão deixa de ser sobre a Internet das Coisas em si, mas sobre o que fazer com isso. Ou, como a Cisco tem preferido tratar, sobre "Serviços Conectados". Lembrando que a Cisco é uma empresa de tecnologia que tem todo o interesse de vender essa ideia.
O conceito é simples: os produtos deixam de ser meras mercadorias, vendidas uma única vez, e se tornam serviços, comercializados no modelo de receitas recorrentes. Trata-se de um modelo já conhecido há muitos anos no universo da indústria de software e TI (com o modelo de Software as a Service – SaaS), já avançou sobre o mercado de mídia (a música, por exemplo, perdeu o suporte material e hoje é vendida como uma assinatura) e outros setores. Agora, com a Internet das Coisas e a conectividade plena, essa realidade passa a fazer parte de, virtualmente, qualquer setor da economia. O evento da Cisco foi inteiramente voltado a promover esse conceito a empresas, de todos os setores. De padarias a fabricantes de máquinas, carros, produtos agrícolas etc. Por uma questão de lógica, antes de a Internet das Coisas chegar às pessoas, ela chegará às empresas que vendem coisas para as pessoas.
A questão é que para que isso aconteça as relações são muito mais complexas. Não se trata mais de uma rede de telecomunicações sobre a qual algumas empresas provêem seus serviços. Existem sensores, dispositivos conectados, diferentes cadeias de valor, fornecedores de mercadoria, logística de entrega, gestão de estoque, segurança de dados, privacidade, atendimento ao consumidor, faturamento, assistência técnica, provedores e gestores de rede e mais uma infinidade de agentes que, se na economia tradicional funcionam de maneira relativamente independente, no ambiente da Internet das Coisas e dos "Serviços Conectados" precisam estar integrados.
A grande questão é se existirá um agregador em todo esse processo, e quem serão as empresas nesse ambiente. A abordagem regulatória, muitas vezes focada em regular um dos pontos da cadeia (e as operadoras de telecomunicações são o alvo principal dos reguladores), passa a ser muito mais complexa. As relações tributárias e a circulação de "produtos" entre países desafia os modelos tradicionais. Entender esse novo processo é uma tarefa extremamente complicada, e quando se usa apenas os referenciais do passado, fica mais complicado ainda.
Fonte: Teletime News de 12 de julho de 2016, por Samuel Possebon.
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