Nas últimas semanas foram publicadas diversas matérias abordando uma pesquisa da CVA Solutions que apontaria uma migração dos assinantes de TV por assinatura para serviços de streaming, notadamente a Netflix. Os dados parecem corroborar a tese, sempre propagada, de que a TV tradicional estaria com os dias contados, e que a nova TV, mais livre e barata, tomaria seu lugar, assim como o Uber acabará com os ultrapassados taxis.
Mas a análise cuidadosa do que diz essa pesquisa reforça uma outra tese: a de que as ofertas por streaming e TV paga tradicional são, na verdade, mais complementares do que excludentes.
Com base na pesquisa da CVA, houve na imprensa quem concluísse que 11,5% dos assinantes de TV paga trocaram o serviço pela Netflix no último ano. Isso daria cerca de 2,2 milhões de assinantes. A Anatel, apenas para ilustrar como nem tudo pode ser lido ao pé da letra, reporta que no último ano a indústria de TV paga perdeu 817 mil assinantes.
Outra matéria dizia que 11,5% dos assinantes da Netflix haviam cancelado o serviço de TV paga. A própria matéria estima em 4 milhões o total de assinantes da Netflix no Brasil, e afirma que portanto seriam mais de 400 mil os assinantes que migraram de um serviço para o outro, ou cerca de metade dos assinantes que a TV por assinatura perdeu no ano.
Estes 11,5% que aparecem na pesquisa se referem aos assinantes da Netflix que tinham TV paga (e não a base total dos assinantes da OTT) e cancelaram o serviço tradicional, mas a pesquisa não revela quantos são. É difícil, portanto, tirar qualquer conclusão sobre a relação entre queda de base da TV paga e os serviços de streaming.
Uma conversa com Sandro Cimatti, diretor da CVA Solutions, contudo, mostra que a realidade é um pouco diferente, e mais parecida com o que dizem as próprias operadoras da TV paga.
Não há dúvida, diz ele, de que a renda média está caindo, e que TV por assinatura, juntamente com plano de saúde, são serviços com propensão ao corte pelas famílias, que procuram reduzir seus custos fixos. Seriam vistos como menos prioritários que Internet fixa e celular, por exemplo. Modelos como o pré-pago acabam se tornando mais atraentes, diz.
Embora pareça ter estancado a queda (leia aqui), a TV paga perdeu base no último ano, sobretudo no DTH. A base de assinantes de cabo, por outro lado, chegou a crescer no período. A causa principal, tudo indica, é econômica. A queda maior se deu justamente na tecnologia (satélite) que atende à base de menor poder aquisitivo e que é mais capilarizada, chegando a regiões mais pobres e/ou periféricas. Dos 4,6 mil entrevistados da pesquisa que tinham TV por assinatura, apenas 175 declararam que cancelariam ou haviam cancelado por conta da Netflix. Ou seja, o streaming responderia por 3,8% dos cancelamentos, dentro da base pesquisada.
Nos EUA, a maior operadora de cabo, a Comcast, anunciou na semana passada um grande acordo com a Netflix para incorporar a OTT em seus serviços (leia aqui). Embora o mito da nova tecnologia que veio para acabar com os velhos modelos seja tentador, tudo indica que o mercado caminha para uma acomodação e até uma eventual cooperação entre os sistemas, com adaptações e cessões de ambos os lados, mas sem canibalismo.
Fonte: Teletime News de 18 de julho de 2016, por Andre Mermelstein.
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