O governo finalmente viu, concretamente, uma luz para uma possível solução de longo prazo para a Oi. O sinal, confirmado na reunião com o grupo de trabalho que gerencia a crise da Oi no governo, é de que a China Telecom efetivamente vai apresentar uma proposta formal para a companhia, possivelmente antes da segunda data da assembleia de credores, no dia 23. O que falta é uma definição interna da China Telecom com base nos dados coletados na due diligence encerrada esta semana, e nas impressões da conversa com o governo.
Para além das "demandas" apresentadas pelos chineses e colocadas publicamente pelos representantes da empresa, de um marco legal atualizado (leia-se PL 79/2016 aprovado) e um equacionamento de longo prazo das dívidas do governo, o que foi sinalizado na conversa é a disposição de um investimento alto inicial e alto no médio prazo. As contas do governo apontam para uma necessidade real de cerca de R$ 10 bilhões de cara, o que bate com as contas dos chineses. Esse montante entraria no curto prazo e seria praticamente todo destinado a colocar a empresa para acelerar, por isso a insistência da China Telecom para que o plano de recuperação das dívidas públicas seja alongado e com os vencimentos o mais tarde possível. Mas além desse impulso bilionário inicial, a China Telecom teria disposição de aumentar ainda em 50% os investimentos nos próximos anos em relação ao que está previsto no plano de recuperação colocado. Fala-se em um montante de recursos totais da ordem dos US$ 12 bilhões para o projeto chinês.
Perto do que a China Telecom sinaliza que vai apresentar, o plano aprovado pelo conselho de administração da Oi e apresentado ao juiz da Recuperação Judicial torna-se irrelevante. Até porque, dos R$ 9 bilhões que os acionistas e alguns credores da Oi dizem que o plano traria, o governo só conseguiu ter confiança mesmo de que entrariam R$ 3,5 bilhões. O resto depende de tantas condicionantes e variáveis que a impressão que ficou é que o dinheiro nunca virá. "Parece muito mais um plano para ganhar tempo para que a empresa possa ser desmontada e vendida em partes", disse um interlocutor com acesso às contas oficiais. Dentro da Anatel, o conselho está absolutamente convencido de que o plano de recuperação colocado é inócuo, e o grau de tolerância com o acionista controlador, Nelson Tanure, mostra-se perto de zero qualquer que seja o conselheiro que se converse. A intervenção só não vem porque seria uma situação com muitos efeitos colaterais.
O foco do governo é mesmo a China Telecom. Sabe-se que existe uma lição de casa a ser feita pelo governo, que é limpar o terreno e assegurar uma assembleia de credores isenta e tranquila. A chance de ter um investidor de longo prazo na Oi, com um plano de negócios industrial e focado na manutenção dos serviços da empresa de maneira integral, com fôlego para recuperar o espaço perdido para a concorrência, é algo que começa a se materializar, na visão de interlocutores governamentais.
Existem, contudo, algumas preocupações que começam a ser colocadas pelos concorrentes da Oi e por alguns críticos da operação, sobretudo em relação à segurança cibernética das redes e à proteção dos dados de tantas estatais e órgãos do governo que trafegam nas redes da Oi. Há muito receio da China, que não tem um histórico transparente em relação a estas questões. É um ponto em que o governo deverá ficar atento.
Os próximos passos a partir de agora são: uma reunião do grupo de trabalho do governo no dia 6 para analisar os números colocados e fechar uma proposta de ajuste dos créditos públicos; uma reunião da própria China Telecom para fechar as diretrizes de uma proposta; e a apresentação de uma oferta "non-binding" (não vinculativa) antes do final de novembro. As ações da Oi nesta quarta, 1 de novembro, tiveram alta de mais de 10% na expectativa das conversas com os chineses.
Fonte: Teletime News de 1 de novembro de 2017, por Samuel Possebon.
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