sexta-feira, 15 de junho de 2018

Viasat detalha planos para o Brasil; investimentos e contratações seguem suspensas

A operadora de serviços via satélite norte-americana Viasat diz estar totalmente pronta para iniciar suas operação no Brasil, prepara investimentos iniciais na casa de "dezenas de milhões de dólares" e pretende contratar alguns milhares parceiros para a venda e instalação dos serviços. Mas tudo está parado na espera de uma decisão judicial, disse a este noticiário Lisa Scalpone, vice-presidente de serviços internacionais da operadora e general manager para a operação brasileira. "Estamos completamente comprometidos com o projeto, com a parceria com a Telebras e otimistas com a resolução da situação na Justiça, mas no momento tudo está suspenso por conta da liminar", disse a executiva, que está na Viasat desde o início das operações da empresa nos EUA e agora prepara sua mudança para o Brasil . Ela se refere à liminar da Justiça do Amazonas que suspendeu cautelarmente a parceria entre a Viasat e a Telebras para a exploração do Satélite Geoestacionário do Brasil (SGDC).

Isso não impede a Viasat de, pela primeira vez, dar detalhes sobre o projeto que pretende trazer para o país. "Em todos os mercados que entramos a primeira coisa que fazemos é olhar as necessidades locais. Nos EUA o mercado residencial e in-flight communications são os nossos focos principais. No México, o mercado de WiFi hotspots é muito mais forte, pois essa é a necessidade do país. Temos modelos diferentes que nos permitem nos adaptar a cada país. Não somos meros vendedores de capacidade. Nós entramos por nossa conta e desenvolvemos tudo, até a relação com o usuário final". O modelo da Viasat inclui o desenvolvimento de parcerias locais, como no México, em que um representante revende o serviço da empresa, mas a definição de produtos, preços, a entrega e operação dos do equipamento é toda centralizada na Viasat.

Nos EUA, a empresa tem como foco, nas suas operações comerciais, a venda direta de capacidade banda larga ao consumidor final, com velocidades de até 100 Mbps. Outros foco da empresa nos EUA é a entrega de capacidade ao governo e forças militares, o que não acontecerá no Brasil. No país, a venda direta de banda larga ao consumidor final poderá acontecer, mas o modelo inicial não deve ser esse. O primeiro objetivo da empresa é atender a Telebras, com o atendimento ao GESAC, Internet para Todos e programas governamentais. O segundo passo dependerá ainda de alguma análise do mercado, que será feito assim que a empresa iniciar as operações, mas muito provavelmente uma avançar sobre localidades com carência de infraestrutura de banda larga, onde irá por conta própria utilizando a tecnologia de hotspot WiFi. A terceira etapa é o mercado de in-flight communications (IFC, ou comunicação embarcada).

Modelo "WiFi hotspot"

O modelo de hotspot WiFi que a empresa pratica no México e deve trazer para o Brasil é muito parecido com o modelo de LAN-houses: um parceiro local (pode ser um pequeno comércio ou qualquer outro estabelecimento com atendimento ao público) vende um passe pré-pago de acesso ao sistema WiFi conectado a uma estação VSAT. Esse parceiro é importante porque é ele quem assegura o espaço para a instalação, energia, a segurança dos equipamentos e o espaço para uso da Internet. Em troca esses parceiros recebem uma parcela da receita. Os passes podem ser limitados por franquia de dados ou por tempo de uso. E a depender da topografia das localidades e da densidade urbana, é possível fazer uma cobertura WiFi que chegue até as residências. "Temos muitos modelos de planos de venda diferentes mas teremos que olhar caso a caso para ver qual é o mais adequado", diz a executiva. "O que vimos no México é um maior interesse por planos ilimitados (sem franquia), mas por um período determinado. Não bloqueamos nenhum tipo de conteúdo. Percebemos que as pessoas querem assistir a vídeos, usar para estudos, usando smartphones".

Lisa Scalpone diz que a ampliação das redes móveis, que tende a acontecer com o tempo, sem dúvida será um limitador para o cresimento da empresa, mas a Viasat acredita que a solução de WiFi com backhaul via satélite é mais robusta para determinadas aplicações. "A ampliação da rede móvel é boa para todos, e a tecnologia via satélite que é a possibilidade de poder ser facilmente realocada para onde capacidade é mais necessária", afirma Scalpone. Inicialmente, a empresa estima que poderá atender cerca de 10 mil localidades. "Estas seriam as nossas prioridades iniciais, mas o SGDC tem apacidade para muito mais, e para outros serviços. Mas haverá um grande impacto, já que em cada uma dessas localidades existem de 500 a 1 mil habitantes. Como estimamos que cerca de 30% poderiam usar os hotspots, facilmente teremos pelo menos um milhão de usuários ou mais". Sobre o mercado residencial de maior renda, a Viasat diz ter planos para este segmento, e acredita que a cobertura nacional do SGDC será um diferencial. Os planos para o Viasat 3 estão mantidos e esta capacidade estará disponível em 2020, o que possivelmente permitirá à empresa entrar com planos sem limites, como esá sendo feito nos EUA. "O Brasil é um mercado muito importante para nós, primeiro pela população, pela parcela não atendida e pela possibilidade de tantos modelos de negócios e serviços. De hotspots em pequenas localidades, condomínios até in-flight communications. Há demanda para tudo no Brasil".

Ela reconhece que a política do Internet para Todos (que prevê isenção tributária para localidades não atendidas) foi um "bônus", porque há uma grande preocupação da carga tributária brasileira. "Quando o governo anunciou o programa, ele fez muito sentido para a nossa estratégia", diz.

O acordo com a Telebras prevê que os clientes governamentais serão todos da estatal brasileira, sendo a Viasat remunerada pelos equipamentos utilizados. Isso tira uma parte importante do mercado potencial da empresa norte-americana no Brasil. Fica então a pergunta: é possível ganhar dinheiro apenas nesse modelo de revenue share e venda direta a consumidores de baixa renda? Segundo Lisa Scalpone, o mercado de WiFi hotspots é rentável, mas a empresa entende que entrará também em mercados de margem maior, como in-flight communications, e corporativo. Mas a Viasat quer que todos segmentos precisam ser lucrativos para operar. Ela prefere não entrar em detalhes por "ser um contrato, supostamente, confidencial". Ela diz apenas que o business plan da empresa é bastante complexo porque envolve investimentos nos equipamentos, o pagamento de revenue share, venda direta e a combinação de segmentos mais e menos rentáveis.

Ecossistema

Sobre a rede de parceiros e instaladores necessários para que a operação comece a funcionar, Scalpone diz que esse é um dos problemas da liminar que suspende o acordo com a Telebras. "Com o SGDC em ponto morto, não apenas o acesso à Internet fica parado, mas milhares de pessoas que contrataríamos direta e indiretamente no processo também terão que esperar. Por exemplo, precisaremos inicialmente de pelo menos 10 mil parceiros para atender as localidades onde teremos que entrar, mas estamos esperando a liminar para negociar com eles. O mesmo vale para instaladores e equipes de suporte. Estimo em pelo menos 500 parceiros, ou mais. E mais revendedores para o segmento residencial e pequenas empresas. Nos EUA temos 3 mil revendedores, e precisaríamos pelo menos metade desse número aqui no Brasil", diz a executiva, ressaltando que montar essa rede toma tempo. "É possível criar uma rede dessa complexidade em pouco tempo, mas precisamos começar, e ainda não podemos fazer nada". Uma das características do mercado que a Viasat pretende aproveitar é a familiaridade dos instaladores de antenas com o modelo de distribuição via satélite, por conta da força do mercado de DTH.

Paralelamente, a empresa está se preparando no que é possível a partir dos EUA, "mas no Brasil ainda não é possível fazer contratações". Para ela, é "agoniante ver o tempo passar" mas a Viasat está confiante que a discussão se tornou mais técnica e agora é apenas uma questão de esperar as decisões judiciais. "Temos uma confiança razoável de que com os argumentos colocados as decisões serão tomadas. Da nossa parte, seguimos absolutamente comprometidos com o país e com a parceria com a Telebras, e nosso compromisso é de longo prazo".

Fonte: Teletime News de 14 de junho de 2018, por Samuel Possebon.

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