Ainda antes da crise da covid-19, a preocupação das operadoras – grandes e pequenas – com a margem sempre esteve presente, na opinião de analistas do BCG, BTG Pactual, Itaú/BBA e Santander, durante live promovida pelo TELETIME nesta segunda-feira, 15. Mesmo agora, em momento de incertezas econômicas, as teles têm buscado se adaptar por meio de consolidação, incluindo modelo de franquias. O que não muda é a pressão por investimentos, sempre constante, o que abre as portas também para outros players interessados.
O analista do BTG Pactual, Carlos Eduardo Sequeira, entende que "é difícil ter redução grande" nos investimentos mesmo com a desvalorização cambial para grupos estrangeiros controladores (América Móvil, TIM e Telefónica). Por outro lado, investimento estrangeiro pode vir em longo prazo. "Em fluxo direto no Brasil, muitos olham a crise como oportunidade. O investimento em dólar vai custar mais barato", diz.
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Valder Nogueira, do Banco Santander, concorda que o cenário de taxa de juros mais baixa e o câmbio tornam "fundos estrangeiros e private equities players cada vez mais relevantes, com separação de serviço da infraestrutura, que vai trazer eficiência de balanço fiscal das empresas quando tiverem isso equacionado". Para o analista, isso mudará o perfil da demanda de serviço, com novos padrões de fluxos de receita. "O papel de fundos, private equity vai ser ainda mais contundente. E haverá criação de players focados em nichos específicos – pode ser um player mero acumulador de espectro, usando-o ou não; ele entra como arbitrador".
Para Nogueira, o cenário que está surgindo é o de aceleração das consolidações. Entre as prestadoras de pequeno porte (PPPs), há empresas de olho em mercados nos quais não atuavam (como no varejo, ou no atacado), mas há também a aglutinação. "Claramente, já vimos consolidações entre regionais, algumas públicas e outras não. Algumas ganhando mais, ficando mais encorpada, para quem sabe usar o mercado de capitais, seja na dívida ou com equity, ou porque um dos competidores fraquejou e acabou virando oportunidade", analisa. "A crise é um catalisador a mais, principalmente se a empresa não estava focada onde deveria".
Regionalmente, há também variação na intensidade do movimento, especialmente no Nordeste. Mas há também outros tipos de consolidação, como o modelo de franquias. "Cada uma com modelo completamente diferente, algumas com sucesso, e esse modelo já traz consolidação com ISPs, que não conseguiam se manter sozinhos", diz. O analista do Santander cita ainda mudanças no arcabouço regulatório que permitiram também essa tendência, com a concentração de espectro mais alta e o detalhamento do que está dentro da infraestrutura das empresas.
Capacidade de investimento
A tendência de o mercado ir concentrando pequenas operadoras é inevitável para a analista do Itaú/BBA, Susana Salaru. Ela conta que investidores ficam "espantados" com a quantidade de ISPs dominando o mercado de banda larga fixa, o que inclusive vem se intensificando. "Particularmente, minha visão é que não vai se manter assim em longo prazo. A capacidade de investimento dessas empresas não vai conseguir fazer frente às de maior porte, e elas não vão sobreviver à competição. Será algo gradual, primeiro no comercial", explica.
Essa capacidade de investimento é proporcional ao acesso ao crédito que os ISPs têm. Ela diz que as linhas atuais são mais utilizadas para capital de giro, com dinheiro adicional para investimento. "Não me parecer [que as linhas atuais] sejam suficientes para a empresa cujo desafio é compensar queda de receita, seja por inadimplência ou por não conseguir atender a demanda, ou fazer frente a uma rede de maior porte."
Carlos Siqueira, do BTG Pactual, entende que há um movimento também em redes montadas com infraestrutura como serviço (IaaS, na sigla em inglês), para que os investimentos possam ser pagos dessa forma. "Dá um fôlego enorme para elas conseguirem fazer as redes. E na verdade, agora isso se prova mais importante, com o crescimento da demanda por alta velocidade", declara. Ele diz que dois terços da base de alta velocidade dos pequenos provedores é composta por velocidades mais baixas. "Na medida em que o mercado se move, ou eles terão que fazer upgrade da rede, com crédito, ou as grandes vão engolir".
Fonte: Teletime News de 15 de junho de 2020, por Bruno do Amaral.
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