Uma das surpresas da nova proposta de aditamento ao plano de recuperação judicial da Oi apresentado na semana passada, a venda da unidade de TV por assinatura (TVCo) está sendo monitorada pelas concorrentes Claro e Sky. Não significa que as empresas necessariamente apresentarão propostas, contudo. Um dos principais problemas é a conta a pagar pelo direito de uso do satélite SES-6 até pelo menos 2028, além de questões ainda nebulosas relacionadas aos direitos de programação.
"Toda vez que algo está à venda no mercado, a gente dá uma olhada. Desde que não pague para olhar, não custa nada", respondeu o CEO do Grupo Claro, José Félix, durante painel nesta terça-feira, 18, o primeiro dia do PAYTV Forum 2020, evento promovido pelo TELETIME e Tela Viva. A Oi está vendendo o ativo por R$ 20 milhões, mas com o custo atrelado das obrigações. Estima-se que o custo do satélite até o final do contrato seja ainda na casa de R$ 1,5 bilhão e a modelagem prevista pela Oi ainda impõe ao comprador condições não muito claras de fornecer programação para o IPTV da operadora, num modelo de revenue sharing.
Uma barreira seria na negociação do conteúdo. "Quem comprar vai seguir fornecendo programação, mas ele vai ser um revendedor de programação? Como seria isso? Será que a Discovery vai aceitar que seja redistribuído? Fico pensando por aí também", declarou Félix.
Já no caso do contrato com a operadora satelital SES, argumenta Félix, há um vínculo apenas com a distribuidora. "A empresa de satélite é um pouco mais fácil, imagino. Porque, preservando a receita dela, provavelmente não terá nenhum óbice."
Sky/AT&T
Entendimento semelhante tem o CEO da Sky Brasil, Estanislau Bassols. Ele argumenta que a companhia possivelmente olhará a oferta da Oi pela TVCo. "A responsabilidade por M&A é do headquarters, mas como são profissionais pode ser que estejam analisando. Não sei se vamos participar ou não". Segundo ele, nas condições comentadas de custo de satélite e programação seria de fato uma operação com margem negativa.
Mas, assim como Félix, Bassols também tem questionamentos. "Eu vi o rascunho [da proposta], e me parece que vão ter que melhorar bastante a redação. Entendo que segue com obrigações de satélite, os ativos do satélite, mas com custo de programação que talvez seja alto pela pouca escala que eles ainda têm", afirma. Lembrando que o modelo de contratação de conteúdos em geral apresenta reduções significativas de valores a partir de escalas maiores, mas poucas empresas chegaram nesses patamares. Na verdade, apenas Sky e Claro têm custos de programação pelos menores valores.
"Se essas condições não virarem condições de mercado, imagino que seja pouco possível um player entrar pagando esse valor por satélite, e outras variáveis que podem fazer esse negócio decolar ou não", afirmou. E, no caso de a operação morrer, isso seria negativo para todo o ecossistema. "Acho importante ter em mente que a opção negociada, com quem quer que seja, se for Claro, Telefônica [ou outros], é melhor do que não ter nada."
Fonte: Teletime News de 18 de agosto de 2020, por Bruno do Amaral.
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