Uma das preocupações da Anatel nas primeiras semanas após o pedido de recuperação judicial da Oi é acompanhar o que acontecerá com o desempenho da operadora em relação aos diferentes serviços e bases de cliente. Um dos principais problemas que a operadora deve enfrentar é a desconfiança de sua própria base de clientes e a dificuldade de crescer e se manter competitiva num cenário de recuperação, em que a imagem da empresa fica, naturalmente, abalada. A operadora vinha conseguindo conservar e até expandir a base em serviços de TV e no segmento pré-pago, mas em telefonia fixa, pós-pago móvel e serviços corporativos o desempenho até o último trimestre era de queda, e na banda larga fixa a operadora estava estagnada. Com o pedido de recuperação, o risco de perda de base aumenta, e eventualmente o ganho financeiro que a operadora tenha com a renegociação pode começar a ser consumido por uma retração na base de clientes. Tudo isso depende da agressividade dos concorrentes e do próprio requerimento do mercado. A preocupação da agência é que, até aqui, esse risco não parece estar dimensionado pela operadora.
Segundo apurou este noticiário, entretanto, a Oi está tomando algumas medidas internas para tentar evitar esse movimento. Além do lançamento dos novos planos e do Oi Total, com o reposicionamento de marca que já havia acontecido antes da reestruturação, a empresa está entrando em contato com os principais clientes corporativos e governamentais para assegurar que não haverá mudanças operacionais. Outra medida deve ser a manutenção do processo de ampliação das verbas em publicidade e marketing, para reforçar as vendas e conquista de novos clientes. Até aqui, nos primeiros dias pós-recuperação, a Oi não detectou mudanças significativas no volume de recargas e contatos com o atendimento.
Passada a fase de estabilização, existe uma expectativa dentro da Anatel de que comecem a surgir conversas entre a Oi e possíveis compradores. A agência espera, mas não fará nenhum movimento nesse sentido, que a nova estrutura atraia empresas operadoras, com o compromisso de investimento de longo prazo e disposição não só de fazer investimentos como, se necessário, abrir mão dos dividendos por um período, coisa que a Oi não teve nos últimos anos.
O único caso similar de reestruturação de dívida no mercado brasileiro de telecomunicações foi o da Globocabo (Net Serviços), que em 2002 entrou em default. Após essa reestruturação, o grupo Telmex, de Carlos Slim, se tornou o principal acionista, pagando, na época algo em torno de US$ 250 milhões. Hoje, com base nos valores mais recentes pagos em valor por assinante no mercado norte-americano (caso da DirecTV, comprada pela AT&T por US$ 1,5 mil o assinante), a Net valeria pelo menos 30 vezes mais do que foi pago pelo grupo mexicano (descontando a diferença de receita por assinante).
Fonte: Teletime News de 23 de junho de 2016, por Samuel Possebon.
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